domingo, 25 de outubro de 2009

UM PALMEIRENSE NA TORCIDA CORINTHIANA

Rafael Taveira Sarro, conhecido como Rafa, um jovem franzino de dezenove anos, palmeirense apaixonado, desce do lotação apressadamente, vai correndo em direção ao estádio do Morumbi, está atrasado para o clássico de maior tradição e rivalidade do futebol paulista, porque não dizer do Brasil: Palmeiras joga contra seu arqui-rival Corinthians, é o tipo de jogo que não acontece por si só, traz consigo anos de tradição e rivalidade; são histórias e mais histórias que cercam esse clássico, o confronto não é só em campo, mas também entre os torcedores, a derrota de qualquer uma das equipes é a mesma sensação de perder uma final de campeonato.
Pelos gritos das torcidas Rafa imagina que o jogo deva estar disputadíssimo, não pôde vir antes, tivera um compromisso inadiável, com isso perdeu a companhia da sua galera. Chega correndo e entrega o ingresso comprado antecipadamente, passa por uma revista e logo está subindo os degraus que dão acesso ao campo, vai muito apressado, de repente, como num passe de mágica, lá está o campo, jogadores correndo de um lado para o outro, enquanto dirige-se ao local onde irá sentar, não tira os olhos do campo, o Palmeiras está no ataque, a bola de pé-em-pé, já está na grande área, o jogador palmeirense chuta e ela bate na defesa corinthiana, volta ao pé de um atacante palmeirense, Rafa caminha como se estivesse hipnotizado, não desgruda os olhos do campo. Novamente a bola bate num jogador do Corinthians e sai para escanteio, o coração do jovem Rafa parece querer sair fora do peito, está mais acelerado que carro de Fórmula 01 na reta final. O jogador bate o escanteio, a bola é cabeceada e choca-se contra o travessão do gol Corintiano, sobe e sai. Rafa com os olhos grudados no lance, passa as duas mãos fortemente pelos cabelos e dá o famoso, uuuh! Nesse instante começa ouvir gritos, palavrões e mais palavrões, do tipo que a censura não permitiria detalhar aqui, Rafa se pergunta: - para quem seria tudo aquilo? Quando olha a sua volta, percebe que foi parar no meio da torcida Gaviões da Fiel, do Corinthians; porco imundo - é elogio comparado ao restante do que estão dizendo sobre ele. E agora? Pensa em correr, não tem mais jeito, em instante encontra-se cercado por dezenas de torcedores do Corinthians, sente que é seu fim, será que vão jogá-lo para baixo? Rafa está desesperado, sabe que cometeu um erro fatal. Os torcedores avançam sobre ele como pitbulls, o pequeno Rafa põe a mão sobre a cabeça, sabe que só um milagre pode salvá-lo, não havia nenhum policial por perto, os outros torcedores da arquibancada gritam como loucos:
- Mata, mata!
- Esfola.
- Joga pra baixo.
De repente um crioulo de mais ou menos dois metros de altura, interpõe-se aos outros e pede que parem, ninguém ousa desafiá-lo:
- Deixa comigo, este é meu.
Rafa olha para o crioulo e o sangue parece ter ido todo para o calcanhar, já começa imaginar os pais e amigos chorando no velório dos seus restos mortais, isso mesmo “restos mortais”. Os braços do crioulo corinthiano parecem duas toras, em cada bíceps uma tatuagem mais horrenda que a outra. Se aquilo tudo era para impressionar alguém... já havia conseguido, Rafa estava desesperado.
O crioulo segurou forte a gola da camisa do pobre Rafa, olhou-o com raiva e disse:
- Olha aqui, porco nojento, você vai se sentar ao meu lado, eu juro pela minha mãezinha, se durante o jogo você não levantar uma sobrancelha sequer para vibrar com seu time, ao final da partida você está livre, caso contrário, não sai vivo, certo!? Rafa engoliu seco, apenas balançou a cabeça. É, realmente a coisa não estava bonita! Rafa senta-se ao lado do crioulo, fica imóvel como uma estátua, quando arrisca um olhar de “rabo de olho” vê metade da torcida corinthiana com olhares flamejantes, louca para triturá-lo, volta e recolhe-se na sua insignificância.
O jogo prossegue com lances belíssimos dos dois lados. A cada jogada uma ou outra torcida levanta-se, grita, berra, xinga o juiz, e Rafa está lá, quieto, quase imóvel. Inveja seus amigos que, do outro lado, torciam livremente, agora entendia a palavra opressão.
Um lance perigoso, o jogador do Corinthians ajeita a bola com o braço e chuta, é gol, a massa corinthiana vibra, grita de alegria. Do outro lado a torcida do Palmeiras xinga, vaia, os jogadores correm para cima do juiz, a confusão está armada. O pobre Rafa continua lá, paradão, não move nem as sobrancelhas, por dentro uma revolta terrível, tem vontade de gritar, falar palavrões, mas olha de resvalo e lá esta o paredão humano, sorrindo de orelha-a-orelha, recolhe-se, é melhor para sua saúde. Vivendo toda essa situação, Rafa se põe a repensar a vida, ele que cresceu numa família liberal, trabalha com um amigo do seu pai, um patrão muito tolerante, sempre teve prestígio junto a sua galera, agora se encontra naquela situação difícil, numa escravidão.
Foi no intervalo do jogo que aconteceram os piores 15 minutos que já vivera, foram intermináveis. Como os seus algozes não tinham nada para fazer ou olhar, passaram a infernizar o pobre Rafa, ele virou o centro das atenções, gracinhas de todos os tipos, cascudos na cabeça, apelidos dos mais cabeludos possíveis, quando achava que a tortura havia acabado, logo recomeçava tudo novamente, sua camisa oficial do Palmeira já virara regatas, as mangas eram disputadas a tapas entre os torcedores mais próximo, todos queriam tirar um pedaço, Rafa pensa: – Antes ela do que eu.
O jogo recomeça, com ele volta a angústia, o Palmeiras perdia por um a zero, um gol seria sua vingança, já que não podia escapar do julgo dos seus algozes. A tortura estava chegando ao fim, 45 minutos do segundo tempo, um jogador palmeirense pega a bola no meio de campo e lança para o centroavante, este mata no peito e, sem deixar a bola cair, dá um chapéu no zagueiro, o goleiro sai desesperado, o centroavante, com muita categoria, coloca a bola por entre suas pernas, é gol. A torcida Palmeirense vai ao delírio, fogos, bandeiras agitadas, gritos, é uma festa, os jogadores lá em baixo correm de um lado para o outro, além de ter sido um dos mais belos gols, era o que dava a classificação. Rafa estava lá, silencioso no meio de uma torcida muda e raivosa, ele tinha medo até de se trair com um risinho. Olhou de resvalo e percebeu que o crioulo estava fitando-o com ódio, com muita seriedade Rafa virou-se e murmurou:
- Bonitinho o gol, né! – em seguida voltou ao seu cárcere. Ele teve certeza de ter visto o crioulo sorrir.

Um comentário:

  1. Nossa meu eu acho que eu desmaiva de tanto medo!
    Eo sou palmeirense e fico imaginando eu no meio da torcida do timeco do corinthians com a camisa do VERDÃO!Eu acho que ia morre de susto ninguem ia precisar me bater!

    Ele foi muito forte!

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