sábado, 24 de outubro de 2009

O ATRASO DO SOL

Inicia-se o horário de verão, como é de costume, nos primeiros dias as pessoas acordam sonolentas, pois, nesse período do ano adianta-se o relógio em uma hora, assim, quando em outras épocas do ano acorda-se ás sete horas, agora se deve acordar o equivalente às seis horas, para quem trabalha em locais mais distantes é um sufoco, pois quando saem para trabalhar ainda é noite.
O horário de verão começava com tudo, mas aquele dia seria diferente. Os trabalhadores já estavam acordados: a lavadeira já carrega sua trouxa de roupa suja para ser lavada na beira do riacho, o leiteiro já fez suas entregas, o padeiro distribui seus pães quentinhos pela vizinhança, o sapateiro dá suas marteladas em pregos e tachinhas consertando sapatos que ainda irão se arrastar muito nos pés de pessoas que não tem condições de comprar um novo. Bem, pelo que se nota o dia começou a mil...
- Espera aí, não está faltando alguma coisa nessa história? Não vai ser dito que começa um dia lindo e que o Sol brilha com todo seu esplendor!?
- Não, infelizmente não é isso que está acontecendo, nesse dia tudo ainda está escuro, como se fosse chover muito forte. As pessoas levam seus guarda-chuvas, preparadas para o pior. Interessante, os mais atentos podem notar que não há nem um raio a iluminar os céus e nem o barulho típico dos trovões! Afinal, o que está acontecendo!?
Para os mortais era mais um dia, como diz no interior “um dia fechado”. É, pelo que tudo indicava o tempo ia fechar mesmo. Muito além da imaginação humana as coisas não estavam boas para alguém. Não está entendendo? Vamos aos fatos.
Nesse dia o Sol estava chegando atrasado ao serviço, silenciosamente chegava nas pontas dos pés e quando estava preparado para bater o cartão...
- Muito bonito senhor Sol! Isso é hora de alguém de responsabilidade chegar para trabalhar!? – um Velhinho de barba branca e longa, encostado na parede próximo ao relógio-ponto, observava tudo e agora esbraveja:
- Como poderemos ter um dia bonito de verão, como poderemos receber elogios pelo belo dia de sol se o senhor me chega a essa hora para trabalhar! O Sol, vermelho de vergonha, abaixa a cabeça e tenta dar uma desculpa: - Sabe que é Senhor, é que ontem eu... eu. – até tentou justificar, mas Ele continuou a bronca:
- Como pode ser tão relapso, todos lá embaixo já estão acordados e você dormindo até uma hora dessa! Fique sabendo que vai ser descontado do seu salário.
- Desculpe-me Senhor, eu...
- O pior é que a Lua também se recolheu mais cedo, tenho certeza que foi por influência sua, como pode explicar?
Ainda mais vermelho, cabeça curvada em sinal de respeito e arrependimento, o Sol balbucia algumas palavras que saem com sofreguidão:
- Vou contar a verdade, ontem durante o dia, Marte passou por mim e avisou que haveria uma festa na casa da Estrela D’Alva, daí, sabe né... de madrugada quando já estava de saída a Lua apareceu, chamou-me para dançar, relutei, mas, afinal, achei que seria uma desfeita recusar o pedido de uma dama e aceitei ficar mais um pouco, quando percebi, já havia passado da hora.
Pelo jeito a desculpa não foi muito convincente e a bronca foi feia, pois o dia foi daqueles em que as pessoas dizem: - “tá um dia tão estranho”.

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