sábado, 20 de novembro de 2010

O IMPÉRIO DO AMOR - AS MULHERES DO IMPERADOR

“Quando impera a dor,
Sublime do amor,
Busca-se a morte,
Consola a dor”.


O imperador Odháffas Hetnagorra sempre teve tudo a seu dispor, nunca precisou de esforços para conseguir o que quis, filho único do casal real que demorou para concebê-lo, quando ele nasceu a rainha já beirava os quarenta anos e o rei estava com quarenta e nove anos. Aos nove anos seus pais morreram em uma emboscada. A partir desse acontecimento o imperador passou a receber todos os cuidados possíveis, afinal de contas, ele já havia sofrido muito e, com isso, não teve ninguém que tivesse coragem de dizer o que ele deveria ou não fazer, quem ousava recriminá-lo acabava no calabouço ou enforcado sob alegação de conspiração contra o império.
Na comemoração dos vinte e cinco anos do imperador, um grupo de belas jovens apresentava danças típicas no salão real, e, normalmente, quando os grupos se apresentam, as mais belas já haviam estado na presença do imperador ou até já tiveram algum relacionamento com o imperador, pois ele era muito mulherengo, mas nesse grupo ocorreu algo inusitado, apresentou-se uma jovem de mais ou menos vinte e um anos que o imperador nunca havia visto e ele ficou encantado por ela, uma jovem linda e numa idade em que o imperador já deveria estar sabendo dela:
- Por que está jovem nunca foi trazida a mim? Por que ninguém nunca me falou dela?
- Sabe que é meu senhor, o informante real devem ter esquecido!
- Esquecido, esquecido, como alguém poderia se esquecer de comunicar sobre uma jovem tão bela e graciosa?
Ao final do espetáculo o imperador pede que não deixem que a moça se vá sem falar com ele e assim foi feito. A principio, Addnyl, a bela jovem não queria aceitar, relutou muito, mas devido a ameaças decidiu falar com o imperador.
Uma vez nos aposentos do imperador resolveu tirar satisfações:
- Quem você pensa que é para obrigar ou impedir as pessoas de ir ou vir, eu já não tenho mais nada para fazer aqui, preciso ir embora.
O imperador deu uma gargalhada debochada e alfinetou:
- Um que meda! A jovem está revoltosa! Se você não sabe sou o imperador e eu mando aqui. Mando em mim, mando no palácio, mando nos criados, mando nos súditos, mando nos seus pais, enfim, mando em você e até nos teus cachorros.
- Uia! Você me impressionou! Manda em mim! – Fez uma pausa e com ironia - Tem certeza? Como ninguém me avisou?
- Gostei, encontrei uma garota que, além de bonita, é espirituosa, isso é raro, isso é bom, vai ser mais emocionante, vai ser caliente.
- Você é ridículo, fala ridículo, se veste de uma forma ridícula, acha que está arrasando. Vê se enxerga imperador da Umbigolândia (só vê seu umbigo)!
- Vixii! Agora você pegou pesado, magoei! – Fala ironizando.
- Você se acha o máximo, se acha o rei o da graça! Na realidade não passa de um ditadorzinho desqualificado.
- Você tá com um repertório afiado, dá impressão que treinou em casa? - Fala debochando da jovem.
- Para ter um diálogo um pouco mais inteligente com você não se precisa treinar em casa, você é tão medíocre que até uma criança tem um cérebro mais privilegiado que o teu.
- Tá bom garota já deu o seu showzinho particular, já me enchi, por menos que isso eu já teria mandado decapitar, mas vamos aos entretantos, quero você hoje à noite nos meus aposentos. - Falando às criadas do palácio. – Ouviram? Quero esta garota impecável hoje à noite.
- Rá, rá! Só porque você quer! Se quiser ficar com alguém aqui leve os guardas para dormir contigo. Euzinha aqui? Com você? Nem pensar.
- Agora chega, me enchi da brincadeira! – Ordenando aos guardas. – Leve-na à masmorra, vamos dar-lhe uma lição. Vamos amansar a fera! Dois guardas sorriram, imaginaram que teriam diversão naquela noite.
Enquanto os guardas levavam a jovem que ia arrastada, o imperador pensou um pouquinho e chamou o capitão da guarda.
- Não quero que ninguém encoste num único fio de cabelo dessa moça, se eu ao menos imaginar que alguém ousou lançar um olhar malicioso para ela, você será o primeiro a perder a cabeça. - Como o capitão da guarda sabia que não seria saudável desobedecer ao imperador não faria nem em pensamento, mas saiu pensativo, o imperador nunca perdoou petulância, porque mudara de postura.
- Que droga! Eu deveria mandar matá-la, vou ficar desmoralizado se continuar permitindo desaforos! Porque tive vontade de poupá-la depois de tudo que ela me falou? Bobagem! Ela é muito bonita e não vale a pena desperdiçar um material daquele.
Naquela noite, para saciar e acalmar seus ânimos, ele convocou um grupo de belas jovens, conseguiu aplacar seus desejos, ao término da festa decidiu que não valia a pena ficar mantendo viva uma jovem que o desafiara, ela poderia ser um péssimo exemplo. Apesar de ter ido dormir de madrugada o imperador não conseguiu dormir até mais tarde, pediu para um dos guardas trazer a jovem à sua presença:
- Ora, estou vendo que apesar de dormir sem os cremes e num lugar não muito confortável continuas bela! Parece-me que a masmorra lhe foi leve!
- Com certeza fui mais feliz do que as pobres infelizes que costumam passar a noite na marra com você, apesar de dormirem nos mais belos e confortáveis aposentos do reino.
- Ao que parece a masmorra não foi suficiente, continua venenosa, mas vou lhe dar a última chance, eu a quero hoje à tarde, banhada, vestida nos meus aposentos.
- Vai perder o seu tempo, não quero nada com você, me deixe ir embora que vai ser melhor para todos nós assim você não perde seu tempo e não se irrita mais, quanto a mim, volto aos que eu amo e não falo nada para ninguém.
- Muita gente já presenciou seu desrespeito, não dá para deixar sem uma lição. – Em seguida deu ordem às criadas. – Levem essa petulante, preparem-na, e, traga para mim hoje à tarde. – Em seguida virou as costas e saiu.
Como o ordenado, á tarde Addnyl foi levada à força aos aposentos do imperador:
- Oh! Percebo que valeu a pena esperar, você está muito bonita!
- Pena que isso tudo não seja para você.
- Que gracinha, continua espirituosa, vem cá, facilite as coisas e deite-se ao meu lado.
- Rá, vai esperando o protótipo de ditador!
- Você já me encheu, agora você vem por bem ou por mal.
- Experimente encostar em mim para ver o que vai te acontecer, bibelô real.
- Chega, chega, você vai ver quem manda aqui, você vai deitar na marra, sua, sua.. – quando o imperador tentou agarrá-la recebeu uma joelhada entre as pernas, o imperador, acusou o golpe baixo e caiu na cama. Tentou chamar os guardas, mas a voz não saiu.
- Você está acostumado a ter todas as mulheres que quer, mesmo que elas não lhe queiram, e que depois de uma noite com você elas se sintam sujas, saiam daqui te odiando e odiando o mundo, você acaba com os sonhos de inúmeras jovens só para satisfazer seus sádicos prazeres, muitas se prostituem, outras até se suicidam, você é repugnante.
- Não quero ouvir mais nada. – O imperador abre a porta do quarto e chama o chefe da sua segurança. - Enforquem-na! Construa uma forca nova e bonita, quero que este enforcamento sirva de lição. – Pergunta o imperador a bela jovem: - Não vai dizer nada?
- Sabe que a forca torna-se até simpática diante da possibilidade de escapar de você!
- Tire essa suicida doida daqui. – Desequilibrado, coisa que raramente acontecia, o imperador Odháffas pede que os guardas realizem o enforcamento em três dias.
- Mas imperador, três dias é muito pouco para construir uma bonita forca e comunicar o povo do evento!
- Virem-se, a quero enforcada ao entardece do terceiro dia, caso contrário mando construir uma bem feia para enforcar todos vocês. – Assustados os guardas saíram levando a jovem?
- Que droga, assim vou acabar desmoralizado, essa jovem está destruindo minha reputação de imperador, ditador, mal e frio.
Durante dois dias o imperador conservou a esperança que a bela jovem Addnyl mudasse de idéia, só não entendia porque, apesar de toda ofensa ela não lhe saia da mente.
No terceiro dia bem cedo o imperador foi à masmorra onde estava a bela. Os guardas ficaram admirados, pois o imperador nunca ia naquele local, algo de ruim estava por acontecer.
- Bom dia minha bela candidata ao enforcamento! – Ironiza. - Não se preocupe mandei fazer uma forca que vai lhe cair bem, digo, você vai cair bem nela. Até a corda estará combinando?
- Fico muito feliz com isso, afinal de contas o imperador, poderoso e viril está assumindo o seu lado mais sensível e delicado, quem sabe o seu próximo passo será o de consultor de moda do império!
- Cala boca sua devassa! Não vim aqui para ser zombado, vim para dar-lhe uma chance, caso queira escapar da forca implore para que eu, na minha eterna bondade e benevolência te aceite por uma noite!
A bela Addnyl dá um sorriso irônico ao imperador, em seguida chama o capitão da guarda:
- Afinal de contas, a que horas vai ser esse enforcamento? Vocês não me disseram que eu seria torturada antes pela presença do imperador!
- Ra,ra,ra, estou morrendo de rir, você é hilária? – Ironiza o imperador – Isso me deixa feliz, pois não carregarei a culpa de ter enforcado alguém contra a sua vontade!
- Uma forca é até um consolo, uma recompensada para escapar da sua presença.
O imperador achou ter visto um dos guardas sorrindo:
- Esse imbecil tá achando graça, coloque o numa cela, um semana sem comer e nem beber.
- Ui! Que medo! Como ele é terrível! – Mais uma vez Addnyl satiriza o imperador
- Isso aproveite, ironiza, no final serei eu quem, de camarote, assistirei sua ironia e arrogância serem enforcadas juntas com você. – Falou, virou as costas e foi embora.
Após a saída do imperador a forte Addnyl esmoreceu, deixou-se cair e ali ficou chorando muito.
O enforcamento estava marcado para o final da tarde, justamente no por do sol, afinal de contas uma mulher tão bela merecia um belo cenário, segundo declarara o imperador.
Os criados do imperador perceberam que alguma coisa não estava bem, ele que sempre estava cercado de puxa sacos e belas jovens, agora queria ficar só, estava mais irritado do que de costume.
Vieram lhe avisar que o almoço estava servido, o imperador ordenou que não queria ninguém almoçando com ele.
- Mas imperador, longe de mim querer contrariá-lo, mas hoje é o dia do almoço com os ministros. – Diz o capitão da guarda.
- Dispense-os, seu incompetente.
O chefe da guarda sabia que não era bom para sua saúde discutir com o imperador, por isso decidiu obedecê-lo imediatamente. Durante o almoço os serviçais notaram que o imperador não tocara em nada, estava com um semblante preocupado, de repente levantou-se, furiosamente começou a jogar todos os pratos e travessas no chão, estava descontrolado. Os serviçais estavam assustado nunca haviam visto o imperador tão descontrolado.
Uma vez em seus aposentos o imperador jogou-se sobre a cama e começou a se indagar:
- O que é isso? Porque essa dor que sinto no peito, dor que espalha por todo o corpo e parece ter início no mais profundo do meu ser?


“Soberano entre tantos,
Por força tão obscura
Curvo-me em prantos
Diante de tão frágil figura”


Preocupado com sua situação chamou o médico real, depois de um diagnóstico superficial, até porque os aparatos da medicina na época eram rústicos, deu o diagnóstico: uma virose, um problema cardíaco ou foi enfeitiçado – até supôs uma paixão, mas preferiu não arriscar em dizer ao imperador, pois ele se dizia vacinado contra esse mal. Com isso o imperador ficou em observação médica.
Chegou o entardecer, o povo estava reunido na praça central, o imperador se encontrava posicionado no balcão principal do palácio, de repente a bela Addnyl foi trazida, estava vestida de branco realçando ainda mais sua beleza, levaram-na ao lastro da forca, um representante da lei leu seu crime: - Desacato e ofensa ao imperador. – Em seguida uma corda foi colocada em seu pescoço, o povo estava dividido, amigos, familiares da bela Addnyl choravam e imploravam clemência, somente seu noivo estava ausente por estar numa missão real, uma vez que era soldado real. Muitos dos espectadores concordavam que a autoridade do imperador deveria ser mantida sob pena de desestabilizar o império.
O carrasco esticou a corda e Addnyl ficou na ponta dos pés, o carrasco vagarosamente se dirigiu para abrir o alçapão onde a jovem cairá e se restabelecerá a autoridade imperial.

CONTINUAÇÃO
No balcão o imperador era consumido em ódio e dúvida, ódio por ter sido desobedecido e ofendido, somente tinha dúvidas se suas dores se aplacariam com a morte da jovem. A cabeça girava o que fazer – o carrasco segurou firme o cabo da alavanca que abre o alçapão – no desespero o imperador pede para parar o enforcamento, o capitão da sua guarda pessoal alertou-o de que ninguém o ouviria e mesmo que alguém fosse correndo não chegaria a tempo:
- Atirem no carrasco, atirem no carrasco.
Quando o carrasco foi puxar a alavanca uma flecha atingiu-lhe as costas, na dor ele se virou e recebeu uma outra flecha no peito.
Sob ordem do imperador que se retirou do balcão, alguns soldados tiraram a jovem da forca.
- Onde estão me levando?
- Pergunte ao imperador, pois logo mais você estará em sua presença.
- De novo, porque não me deixaram morrer seria menos ... – Addnyl não termina a frase e desmaia e é carregada por um soldado.
Depois de ter sido preparada pelas serviçais do castelo a bela Addnyl foi novamente levada aos aposentos do imperador:
- Percebeu que sua vida está em minhas mãos, se não tivesse intercedido há essa hora estaria dependurada numa corda.
- Você espera que eu te agradeça? Foi você mesmo que me colocou lá e, teria sido muito mais agradável do que estar na sua presença?
- Que porcaria! Você só me ofende, em nenhum momento tentou se acertar ou ser carinhosa comigo.
- Olha quem fala! Até agora você só foi grosseiro comigo e ainda quer que eu te agradeça por estar me querendo na marra? Saiba que eu te odeio e não vai conseguir nada de mim.
- Por que me odeia tanto? Quantas mulheres dariam tudo para estar nesse palácio e me servir, você está tendo esta oportunidade, teimosa e imbecilmente, está jogando tudo fora!
- Se tantas mulheres gostariam de estar no meu lugar, porque não as traz para cá e me deixa ir embora? Existem mulheres mais bonitas e até aquelas brigariam para estar contigo, mas eu não quero e nunca vou querer.
- Mas porque essa rejeição tamanha?
- Sabe imperador, para seu governo sou noiva e amo outro homem, e só me entregaria de corpo e alma para o meu amado.
- Amor, amor, esse é o lado frágil dos tolos, os sábios não amam, não se deixam aprisionar, aproveitam os prazeres que a vida lhe oferecem, não sofrem dessa doença dos fracos e mesquinhos.
- Pois então imperador, por que se humilhar para uma mulher doente de amor, isso pode ser contagioso e você pode se tornar um tolo também, fique longe e divida sua sapiência com todas que lhe querem, assim não correrá riscos de sofrer por amor. Quando só buscas pessoas que estejam a sua disposição não terá de abdicar de nada e não se sujeitará as essas fraquezas dos tolos humanos.
- Você está zombando de mim, saiba que não estou me humilhando a você, só quero o que me é de direito, eu sou o imperador e meu desejo é uma ordem, e minha ordem é que você se entregues para mim de corpo e alma. – Dizendo isso o imperador avançou em direção a Addnyl, ela continuou imóvel, o imperador passou a rasgar lhe a roupa e a jovem continuou a sua mercê, mesmo enquanto tentava beijá-la, ela continua imóvel, não esboçava reação nenhuma e o imperador lhe ordenou:
- Vamos, corresponda às minhas carícias.
Addnyl não respondeu nada continuou como se tivesse em sono profundo, isso irritou o imperador que já estava descontrolado:
- Bruxa, bruxa, você está me envenenando, estou adoecendo pelo seu feitiço! - Nesse instante o imperador atirou Addnyl sobre a cama e vagarosamente caminhou em sua direção.
Nesse instante Addnyl respondeu:
- Na marra imperador, você poderá ter o meu corpo, mas não o meu calor, poderá dar-me carinho, mas não o receberá, terá sim o meu ódio eterno, esperarei o tempo de acabar de me beijar e cuspirei seu gosto, caso tape minha boca vomitarei mentalmente, pode obrigar e exigir o meu corpo, mas nunca os meus sentimentos e o meu querer. Agora sentada na cama Addnyl fala ajeitando um dos lados da blusa que deixava à mostra um dos seus lindos seios.
- Você é maligna, você é venenosa, você é bruxa, você é encarnação do mal.
- Eu sou a liberdade e o amor verdadeiro, tudo o que um tirano não quer nos súditos. Ao meu amado me entregarei inteira, não só meu corpo, mas meu calor, minha alegria, meu ser, minha alma, meu querer.
O imperador afastou-se e se se deixou cair numa cadeira, estrategicamente colocada no quarto, colocou uma das mãos na fronte e encostou o cotovelo no joelho, agora em tom mais ameno, perguntou:
- Sou tão monstruoso e asqueroso que não mereça o amor de uma mulher?
- Se é o que quer ouvir, você é um homem bonito, mas só isso não é o suficiente, a monstruosidade está nas tuas atitudes.
- Então se eu for carinhoso você me aceita?
- Não são só os teus carinhos que poderão fazer alguém querer você, tem que haver sintonia, tem que haver a química do amor?
- Como se produz essa química? Pode reunir os maiores alquimistas do reino e eles o produzirão.
- São vários fatores que produzem essa química, mas ela é natural, não podemos inventá-la.
- Por que não podemos ter essa química?
- Por que já amo outro homem?
Nesse instante o imperador se colocou de pé:
- Ele é imperador de outro reino, é algum nobre desconhecido do nosso reino.
- Não, imperador, ele é um jovem simples, do povo, inclusive um soldado do teu exército.
O imperador se colocou próximo à jovem, ele estava irado:
- Como! Ser trocado por um pobretão! Como se pode amar um miserável, quando se pode ter tudo? Eu lhe dou uma boa quantidade em ouro!
- Guarde seu ouro para gastar com as interesseiras, imperador, o verdadeiro amor não se compra, ele é gratuito.
- Amor, amor, sempre ele, que ódio! Você é piegas demais, e ainda diz que eu sou ditador, esse tal amor é muito mais ditador, ele tem normas, aprisiona, subjuga, é exclusivista e tortura as pessoas, chegando a condená-las à morte... – Não chegou a concluir, quando Addynil indagou.
- Está querendo dizer que sabe o que é amor, que já sentiu ou está sentindo o amor?
Pego de surpresa o imperador tenta desconversar:
- Você não fala em outra coisa, já estou ficando especialista em matéria de amor. – O imperador terminar de falar e faz-se um silêncio profundo no local. Minutos depois o imperador quebra o silêncio. – Faço uma proposta, dou um pedaço de terra a sua família e ouro para que não tenha problemas financeiros por toda vida, aceita minha proposta?
- Imperador, a coisa mais preciosa que poderá me oferecer é minha liberdade, esquecerei tudo e seguiremos nossas vidas.
Irritado o imperador abre a porta de seus aposentos e chama três soldados que estão próximos à porta:
- Levem essa bruxa coloque na masmorra e, caso em cinco dias ela não decida por pedir perdão pela desobediência, queimem-na numa fogueira em praça central.
Um dos soldados chegou a comentar com outro: - Tenho impressão que na última hora um dos nossos vai se dar mal, lembra o que aconteceu com o carrasco?
Novamente Addnyl foi trancafiada numa cela úmida e fria, ficando sem nada para comer ou beber.
Enquanto isso em seus aposentos o imperador era consumido por tremores, também não sentia fome:
- Parece que engoli um enxame de abelha, todo meu corpo sofre como estivesse sendo picado por dentro, o feitiço dessa bruxa é muito poderoso. Tenho que reagir, não posso continuar assim, ainda sou o imperador e todo o reino espera que eu exerça minhas funções isso alimenta as fantasias desses pobres mortais de estar protegido por um imperador supremo, é o fascínio pelos que detêm o poder. – Nesse instante o imperador chamou o capitão da sua guarda pessoal e pediu que as mais belas mulheres fossem colocadas à sua disposição naquela noite e assim foi feito, algo surpreendente aconteceu, por mais que tenha tentando o imperador não conseguiu se interessar por nenhuma, a noite foi uma tragédia para a virilidade do imperador. Novamente chamou o capitão e pediu que desse um sumiço naquelas jovens, elas não poderiam falar com ninguém.
Amor, oh! Imenso amor!
Donde tu vens
Trazendo tamanha dor?
Mostre-me tua outra face, se tens,
E serei seu escravo, meu senhor.
O dia amanheceu e o imperador não havia conseguido dormir, suas dores não cessavam e seus pensamentos só tinham lugar para a bela Addnyl, suas palavras ecoavam e sua imagem o fazia delirar. Sentindo suas forças esvaírem, com o corpo parecendo estar em chagas, ele manda chamar Aohzzar, sua mais antiga criada, inclusive ela o pegara nos braços quando nasceu e esteve presente em vários momentos da vida do imperador, só não foi mais presente, pois o pai do imperador achava que ela poderia influenciar negativamente o imperador tornando-o muito sensível e frágil para a função.
- Aohzzar, Aohzzar, o que está acontecendo comigo, estou morrendo de uma doença lançada por uma bruxa, todo meu corpo dói, não sinto fome, não consegui dormir, meu corpo arde em chama, meu coração parece querer explodir, para piorar, não consigo parar de pensar na bruxa que me lançou o feitiço! O que eu tenho Aohzzar? Ajude-me!
- Meu imperador, pelo que venho acompanhando à distância você realmente foi enfeitiçado e, para piorar é um dos feitiços mais difíceis de ser curado.
- Qual o antídoto? Como eu posso quebrar esse encanto?
- Digo a Vossa Majestade que esse encanto só se quebrar com o desencanto ou então deixar a dor se transformar em bálsamo com a dosagem diária do veneno, devendo ser bebido direto na fonte.
- Aohzzar, você só está me confundindo, como vou me curar tomando mais veneno?
- O que eu quero dizer, meu imperador, com todo respeito a Vossa Majestade, a doença que sentes é dor de amor.
- Amor! Não me venha com essa história, eu nunca amei, desse mau eu não morro.
Nesse instante alguém bate à porta, Aohzzar é autorizada a abrir a porta, era o capitão da guarda:
- Majestade, estão presentes no saguão do castelo o pai e o noivo da bela Addyl acompanhados de outros camponeses, eles pedem clemência, querem que a liberte, imploram a vossa bondade!
- Bondade,bondade! Onde que eles acham que estão numa igreja pedido ao bispo? Jogue a todos nos calabouços.
- Mas... – O capitão tentou questionar.- Cumpra-se, não discuta ordens.
- Vai, Aohzzar, não quero mais seus serviços, você é uma incompetente.
Todos se foram e o imperador ficou só e pensativo:
- Parece que não me conhecem, logo eu o imperador, subordinado a um sentimento próprio dos fracos, eu que tenho todas as mulheres que quiser! Só me faltava essa, apaixonar por uma camponesa! Ela nem é a mais bela mulher que eu já vi! Já estive com condessas, princesas, rainhas e centenas de mulheres da mais alta nobreza, vou me apaixonar por uma plebéia, mal vestida, pele encardida, e que fala errado! O amor pode ser cego, mas eu uso o tato. – Ficou um tempo só remoendo suas dores e completou. – Diante disso porque não paro de pensar nela?
Amor, decantado amor,
Se és tão profundo na alegria
Quanto tens sido na dor,
Todos os prazeres do mundo trocaria
Por apenas um dia de amor.
Passa-se mais uma noite e o imperador não consegue dormir, está fraco e debilitado, sua criadagem e seus soldados nunca viram o explosivo e tirano imperador tão abalado. Depois de analisar o que vem sentindo e o que lhe disse Aohzzar, o imperador decide dar uma última chance a bela Addnyl, então decide ir ao seu encontro:
- Quando os carcereiros o viram perceberam que o imperador já não era o mesmo, estava mais amenos, menos mandão. Quando o imperador viu Addnyl percebeu pela sua fisionomia que havia sofrido muito, notou que estava sentindo muita pena dela, isso nunca havia acontecido:
- Addnyl, quero falar com você.
- Imperador, você aqui novamente, já não basta o que estou sofrendo, ainda sou obrigado a vê-lo e ouvi-lo?
- Addnyl, por favor! Chega de ofensas! – Imperador estava mais suave. – Vim fazer-lhe uma proposta, eu a liberto e você fica no castelo e eu lhe dou um tempo para você aprender a gostar de mim.
- Imperador, eu amo outro homem, tenho convicção disso, não posso querer ou não querer me apaixonar por você, amor a gente não inventa ele nasce e cresce no coração.
- Que droga, outro homem, que homem pode ser mais importante que o imperador?
- Imperador, já lhe falei que o amor não vê poder ou riqueza, o amor verdadeiro é maior que tudo isso é um sentimento supremo.
- Supremo sou eu, sou o bem e o mal, sou a verdade e a mentira, quem não me obedece está fadado ao nada. Sou o deus desse povo e decido pela vida e pela morte de cada um - O imperador respira fundo. - Não vou ficar discutido com você, estou pedindo, aceita minha proposta, entenda que eu nunca pedi nada a ninguém, apenas dê-me essa chance?
- Faço outra proposta, imperador, você me liberta eu volto para os meus, caso eu sinto falta de ti, eu volto a lhe procurar, aceita?
- Está me achando com cara de idiota, está querendo fazer o imperador de imbecil! Depois que você se for eu nunca mais a verei, é a minha proposta ou a fogueira?
- Diante dessas possibilidades prefiro a fogueira.
- Assim será. Inclusive seu pai e seu noivo já estão na masmorra e você acaba de determinar a morte deles também. – O imperador se dirige a um carcereiro e ordena, quero essa bruxa na fogueira hoje à tarde.
- Por favor! Não faça nada com eles, não merecem serem punidos! -Addnyl grita, mas o Imperador segue sua caminhada.
- Seu monstro, seu monstro! - Os gritos parecem ferir a alma do imperador, mas ele segue.
Já em seus aposentos o imperador sente forças esvaindo, sua consciência o condena, sabe que foi radical como sempre, deveria ter negociado mais, começa a se questionar:
- Será que eu deveria ter aceitado sua proposta? Ao menos ela continuaria viva!
Cansado, debilitado o imperador adormece, e assim fica durante várias horas, acorda de sobressaltado, está queimando em febre, seu corpo parece repleto de chagas, acorda delirando, chamando o nome de Addnyl, o capitão da guarda abre a porta de seus aposentos e encontra o imperador caído e ardendo em febre, desesperado o capitão chama Aohzzar que vem o mais rápido possível:
- Meu imperador, o que está acontecendo?
- Eu a amo, eu amo Addnyl, não a deixe morrer, salvem, salvem, mesmo que ela não queira ficar comigo, eu a deixo livre para decidir só não quero perder qualquer esperança, salvem-na.
- Do que ele está falando? – O capitão não está entendendo.
- Vá rápido, é uma ordem, não permitam que a jovem Addnyl seja queimada na fogueira, vá homem, não perca tempo, você não entende que a vida do imperador que está em jogo!
O capitão foi o mais rápido possível, mas chegando ao calabouço o carcereiro comunicou que ela havia sido levada para a praça central. Desesperado o capitão corre para a praça, já estava anoitecendo e de longe ele viu a fogueira acesa e suas labaredas iluminavam toda a praça.
Enquanto se dirigia aos aposentos do imperador o capitão era a própria expressão da derrota, tinha medo de comunicar a tragédia, mas se mentisse não teria como sustenta-la por muito tempo e poderia pagar caro por isso, foi então que decidiu falar. Quando adentrou ao aposento viu Aohzzar cuidando carinhosamente do imperador:
- Capitão, por favor! Não me deixe esperando, faça entrar a bela Addnyl.
- Majestade, eu... – a voz estava embargada – infelizmente, não consegui chegar a tempo.
- Como? Seu incompetente, você deixou-a morrer? Você é culpado pela morte da minha doce Addnyl, você é o culpado. Vou mandá-lo para a forca. Guardas prendam esse incompetente. – O imperador precisava achar um culpado, assim, imediatamente o capitão foi levado preso.
Novamente nos aposentos estavam apenas o imperador e Aohzzar:
- Como isso pode acontecer, Aohzzar? Não sou mais um jovenzinho, como ainda fui cair nas armadilhas do amor! – O imperador estava transtornado, chorava como uma criança.
- O amor não é armadilha, majestade, só não podemos aprisioná-lo, nem tentar subjugá-lo, ele é o mais belo dos sentimentos, só os grandes amantes sabem do seu valor.
O imperador ardia em febre e delirava, sentia todo o seu corpo dolorido:
- Eu sou o imperador, eu mando e ai de quem não me obedecer, porque meus sentimentos não me obedecem, porque sofro quando não quero sofrer, porque essa dor não me obedece e vai embora. – A cada instante imperador piorava. – Porque essa fogueira dentro de mim, Aohzzar, porque estou sendo queimado vivo. Diga aos inquisitores que parem a execução, eu sou imperador e não quero ser queimado. – Aohzzar continuava ali ao lado do imperador presenciando sua dor e vendo suas forças se esvaindo.
Amor, decantado amor,
Se és tão profundo na alegria
Quanto tens sido na dor
Trocaria todos os prazeres do mundo
Por um dia de amor.
Todos os doutores do império foram chamados, mas depois de dois dias de sofrimento e de ter chamado o nome da bela Addnyl até o último momento o imperador não resistiu e morreu.
Apesar de o povo ter consciência de ter se livrado de um imperador mau e ditador, entristeceram ao saber da circunstância da sua morte.
Como o imperador não tinha herdeiros, vários nomes foram cogitados, mas num levante o povo exigiu que o noivo de Addnyl, que sempre fora um homem destemido, honesto e de um grande coração, fosse escolhido governante daquele reino, como não houve resistência por parte dos soldados, assim foi feito.
Uma das primeiras providências do novo rei foi mandar um escultor fazer uma estátua da bela Addnyl que foi colocado na praça central para que o povo não esquecesse daquele amor fiel e puro. Também a bandeira do reino foi trocada e passou a ser toda vermelha, no centro o brasão e, embaixo a frase Amor, Liberdade e Fraternidade escrita em cor dourada.
O rei foi muito bom para seu povo e aquela história de amor nunca foi esquecidam serviu para as pessoas perceberem que as coisas mais importantes da vida, não precisa ter, necessariamente, um preço, mas cuidados, zelos e carinho.
Conforme um artigo da revista especializada “The Psychologist”, o psicólogo Frank Tallis escreveu que muitas pessoas acabam desestabilizadas ao se apaixonar ou sofrem quando seu amor não é correspondido. Muitas pessoas podem morrer de desilusão amorosa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

PERDENDO O PARAÍSO

Verney Paramant Crermêncio vivia pedindo ao Senhor a possibilidade de conhecer o paraíso ainda em vida, um dia estava com muita febre devido a uma infecção, assistia televisão no seu quarto quando um anjo apareceu e convidou-o a conhecer o paraíso, já que era seu sonho, ele aceitou. De repente Vernei já estava sobrevoando o paraíso ao lado do anjo, de cima pode conhecer lugares belíssimos, grandes áreas de florestas com árvores de diversas cores e tamanhos, longos canteiros de flores com cores deslumbtantes e perfumes embriagadores, cachoeiras nos mais variados tamanhos, vales e montanhas com picos nevados, maravilhosos lagos, mares, rios e tudo mais, Vernei ficou encantado, depois o anjo lhe disse que ele conheceria o inferno e Vernei dispensou, disse que preferia ficar com a imagem do paraíso, mas o anjo insistiu e Vernei aceitou, como num passe de mágica eles chegaram ao inferno, lá o clima era muito quente, muita fumaça e destroços, valetas com água suja correndo a céu aberto, tudo era muito fedido, sobrevoando o inferno pode ver inúmeras chaminés soltando fumança e poluindo tudo ao redor, a terra era seca e rachada, florestas inteiras devastadas, havia toneladas de entulhos, podia ver uma gente maltrapilha e encardida que vagava apanhando restos aqui ou ali, havia muitas pessoas acorrentadas, sofrendo violência de todo tipo. Verney ficou chocado com o que viu no inferno.
Indignado Vernei pergunta ao anjo: - Perdoe-me pelo abuso, mas porque o Senhor permite o inferno, não é muito melhor a visão e a vida no paraíso?
O que o anjo responde de imediato: - O Senhor dá o livre arbítrio e a escolha é do homem, caso contrário os homens seriam meros robozinhos reproduzindo o que o Senhor Supremo quer!
- Então porque Deus não apresenta o Paraíso aos homens e, tenho certeza que eles não quererão outra coisa!
- Pois Ele não só apresentou com já deu o paraíso aos homens? - Responde o anjo
- Não entendi! - Diz Verney.
- O inferno que você visitou foi o paraíso que o Senhor ofereceu ao homem.
- Você está querendo dizer que nossa ação sobre o planeta Terra levará a aquela visão infernal.
- Levará? Será que sua pergunta já não está sendo respondida nesse instante!
Vernei não entende nada e quando vai fazer uma nova pergunta o anjo já havia desaparecido bem como tudo que estava a sua volta, sua cabeça está girando muito e, de repente, Verney ouve uma voz: - O clima do nosso planeta está ficando insuportável, o buraco na camada de ozônio está aumentando o clima da terra, destruindo a natureza, acabando com as lavouras e provocando o degelo nos pólos, o homem está acelerando o processo de desertificação e as grandes potências não aceitam reduzir o índice de poluentes no ar, dizem que irão perder muito dinheiro... – Nesse instante Verney recobra os sentidos e percebe que a voz vem da televisão ligada, fica confuso, havia sido muito real, fica a pensar: será que realmente tinha conhecido o paraíso e o inferno ou havia sido apenas um delírio com influência da reportagem da televisão?

COM JESUS NO PORTA MALAS

Cinco jovens - três rapazes e duas garotas - haviam passado três dias maravilhosos naquela cidade de belas praias e paisagem exuberante, mas chegou a hora de voltar para casa, a irmã de um dos jovens, onde eles estavam hospedados, acompanhada do marido e de um dos filhos foram até a calçada se despedirem dos viajantes:
- Que Jesus esteja com vocês nessa viagem! – Diz carinhosamente a irmã.
- Só ele for no porta malas, porque aqui dentro tá lotado, não cabe mais ninguém! –Diz Lincoln rindo em tom de deboche. Todos riram muito, ele acenou à irmã e ao cunhado e arrancaram cantando pneus.
Durante a viagem muita alegria, lembranças das noitadas e das festas, quando já avistavam a sua cidade de destino, não mais que oito quilômetros, Zenaide, namorada de Lincoln brincou:
- E Jesus, será que fez uma viagem confortável no porta malas?
- Se está confortável eu não sei, só espero que ele tenha feito um milagre para acabar com o chulé dos tênis do Éder que está com Ele no porta malas! – Diz Lincoln seguido de muita risada. E a viagem seguiu para seus quilômetros finais, todos já sentiam a sensação de chegar em casa.
Próximo à rotatória que dava entrada à cidade, um caminhão fez uma ultrapassagem em local proibido e chocou-se de frente com o carro onde estavam os cinco jovens, a batida foi frontal e violenta, o carro rodou e capotou por três vezes, com a chegada da polícia e corpo de bombeiro constatou-se que apenas um rapaz ainda respirava, apresentava diversas fraturas, mas estava vivo, foi reconhecido com o nome de Éder.
O jornal falou sobre o acidente e, inclusive, deu um detalhe curioso, apesar do carro ter rodado e capotado, apesar da frente ficar toda destruída, o porta malas estava intacto, havia apenas alguns arranhões.
Dois meses depois Éder sai do hospital, havia sofrido um trauma na coluna e tinha pouca chance de voltar andar, quando recebeu a visita de um amigo, falaram sobre o acidente e fez o seguinte comentário:
- Esse acidente deu-me uma certeza, com Jesus, até o porta malas se torna o local mais seguro e confortável do carro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

INVENTANDO A VIDA

David G. Garfherewd chegou aos setenta e um anos de vida um tanto debilitado, sempre se apresentava tristonho nos lugares em que era convidado, não gostava muito de falar sobre si ou do livro autobiográfico que havia escrito há seis meses e que há dez semanas consecutivas figurava como o primeiro da lista dos mais vendidos, estava sendo um sucesso estrondoso. Todos se perguntavam como uma pessoa que tivera uma vida tão fascinante, como narrara em seu livro, tornar-se uma pessoa com uma expressão tão triste? Justificava dizendo que se sentia decepcionado com o ritmo de vida após o envelhecimento.
O sucesso do livro de David, fazendo admiradores por todos os cantos do planeta, era resultado da suas narrações de uma vida intensa, cheia de aventuras, muitos amores, viagens, luxos, dinheiro, poder, influência, muitas festas; tudo com sabedoria e equilíbrio, além de ter sido um grande empreendedor. Até as desventuras e gafes eram narradas de uma forma que se tornavam maravilhosas e charmosas. O escritor fora um homem que conhecera quase todos os países e os mais belos lugares do mundo, se relacionou com as pessoas mais importantes da sua época, evidentemente que a maioria dos casos eram sigilosos, vivenciou grandes momentos da história recente, ele era tudo que as pessoas queriam ser, muitos se decepcionavam por não conseguir, ou por falta de dinheiro ou de iniciativa. David era citado em palestras, programas de televisão como um exemplo de sucesso e de vida plena. O mais importante, ele conseguiu tudo isso sem ficar preso a nada ou a ninguém, tendo ócio produtivo.
Outras versões da vida do senhor David começaram vir à tona, parentes, além de outras pessoas que tiveram um relacionamento muito próximo a sua família, mostram um outro lado da vida prodigiosa daquele homem de sucesso, na verdade a biografia de David daria poucas linhas a não ser que se fizesse a lista de vídeos, programas de televisão, livros, jogos eletrônicos e páginas de internet que tenha lido. Com o tempo descobriu-se que, na realidade, sua vida toda ele passou trancado dentro de um quarto. Filho único de um industrial e de uma madame, colunável da alta sociedade, nunca quiseram que o filho corresse riscos, evitando um contato com o mundo violento e sem atrativo que se apresentava lá fora, sempre recebeu tudo sem o menor esforço. O garoto cresceu isolado numa redoma psíquica, os pais morreram, e ele continuou rico, herdando empresas que foram administradas pelos sócios, e David, que não tivera história inicial, sem saber se relacionar com as pessoas, preferiu continuar vivendo a história dos outros através das suas parafernalhas eletrônicas. Via o mundo como se estivesse numa janela.
Apesar de ter sido descoberta a mentira que era a vida de David G. Garfherewd inventada na sua autobiografia, os livros continuaram vendendo bem, não como biografia de um vencedor, mas sim, exemplo de como alguém deveria viver para tentar ser feliz. David descobriu que por mais que mintamos para os outros a verdade continua dentro de nós.
Disso tudo ficou a lição aos seus leitores e admiradores: “Por mais belas que sejam as historias que criamos sobre nós não são mais belas que a vida real e a emoção de nos relacionarmos”. Como diz uma canção do Rei: “Se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi”.

sábado, 28 de agosto de 2010

MEDICANDO E REMEDIANDO

Dois velhos amigos e amigos velhos conversando:
- A nossa saúde é proporcional ao tempo que demoramos para ir ao médico.
- Quanto mais cedo irmos ao médico melhor?
- Não. Ao contrário! Quanto mais tarde melhor.
- Mas o que é isso compadre? Os médicos é que nos informam sobre a enfermidade que temos!
- Por isso mesmo, os médicos têm a mania de serem portadores de péssimas notícias.
- Mas também, se formos ao médico e ele nos informar que não temos nada ficamos revoltados com a sensação de termos gastado dinheiro à toa.
- Você já notou que antes de ir ao médico temos apenas uma dor, depois da consulta passamos a ter uma doença, muitas vezes com nome e sobrenome.
- Não sei se você já notou a psicologia médica: primeiro ele informa que você está doente – faz cara de tristeza para combinar com a cara de aflição do paciente – depois da pergunta – tem cura doutor? – Com um leve sorriso ele diz que sim. – O sorriso não é propriamente pela cura do paciente, mas pelo tempo que ele vai passar pagando. – Quando o médico informa ao paciente ou aos familiares que o paciente não tem cura sua cara é de tristeza total, mesmo que ele nuca tenha visto o paciente antes. – A cara de tristeza é, em primeiro lugar, para combinar com a tristeza dos familiares e, em segundo lugar, por estar perdendo um cliente e, porque não dizer, dinheiro.
- Você sabe porque o símbolo da farmácia é uma cobra?
- Não! Nunca me atentei para isso! O que significa?
- Se cura, cobra. Se mata, cobra.
- Você acredita que a primeira cirurgia que fizeram em mim, um dos médicos era tão inexperiente que, após ter realizado um corte, ele virou para o colega e perguntou – Xii, acho que errei! Você tem uma borracha pra eu apagar?
- Apesar de tudo os médicos têm muita credibilidade!
- Ah! Isso eles têm mesmo compadre!
- Quando estava lutando na segunda grande guerra, passamos por um campo onde havia muito soldados feridos ou mortos, nosso comandante solicitou para que o médico fosse indicando quem estava vivo e quem estava morto; aqueles que estavam feridos, mas estavam vivos, seriam levados à enfermaria, os que estavam mortos, até para não ter que enterrar tanta gente, deveriam ser jogados no rio para as piranhas. O médico era um Inglês e os carregadores eram voluntários de um país... prefiro não citar o nome. - Bem, o médico ia à frente dizendo: - este tá vivo, este tá morto, este tá vivo, este tá morto e, assim por diante, quando os homens estavam carregando um soldado que o médico disse estar morto e que seria jogado no rio, o suposto morto levantou a cabeça e começou a suplicar desesperado: - eu tô vivo, eu tô vivo! – Os voluntários não tomaram conhecimento disseram: - se o médico disse que você tá morto é porque tá, vai querer saber mais que doutor agora? - Em seguida jogaram o homem no rio.
- Mas não se pode dizer que só os simples mortais passam por situações complicadas em relação aos seus médicos; eu estava visitando a Inglaterra quando ocorria a substituição do médico da rainha, o anterior já estava muito velho. Havia servido durante mais de trinta anos e decidiu que merecia a aposentadoria, os súditos falavam que até os últimos dias ele havia sido leal e competente. No critério de escolha do novo médico pesou muito a influência e, no final, foi indicado um médico que não gozava de boa reputação junto ao povo. Num dia os jornais estamparam na primeira página a foto e o nome do novo médico, no outro dia, na frente do palácio amanheceu um faixa bem grande: Deus salve a rainha.
- Bem, a conversa tá boa, mas vou correndo para casa tomar meu Lexotan.
- Não corra muito ou poderá tropeçar na bengala. – Ironiza o outro.
- E você deve tomar cuidado para não tropeçar no saco! – O outro não respondeu por não ter ouvido, a surdez já estava avançada.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

CONFISSÕES DE UM PERNA DE PAU

Meu nome é Tino - dispenso piadinhas, meu Tino não é diminutivo de cretino – bem, estabelecida a seriedade da minha confissão, declaro que sempre tive consciência que nunca fui bom de bola, só não sabia o quanto. A confirmação veio quando meu pai foi à cidade grande e comprou para mim: um par de chuteiras, um meião, um calção e, o mais importante, uma bola oficial novinha, quando ele chegou e entregou as roupas foi muito legal, mas quanto ele foi ao carro e de lá tirou a bola, meus olhos brilharam, foi uma alegria imensa, indescritível, fiquei boquiaberto, era bonita demais, nunca fui muito de abraços e carinhos com o meu velho, mas naquele dia não resisti, dei-lhe um abraço bem apertado, ele ficou surpreso e se fez de durão, cara de quem nunca gostou muito dessas intimidades. De posse da minha preciooosa, esperei o entardecer e corri para o campinho do bairro, mal podia esperar para ver a cara dos amigos quando me vissem de chuteira, meião e calção novo, só isso já seria um sucesso, até porque a maioria jogava descalço e com vestimentas bem surradas, mas a espectativa mesmo era pra quando eles vissem a bola, e não foi diferente do que imaginava, esperei para chegar quando a maioria já estava lá, o pessoal ficou encantado com meus trajes, mas a bola foi a sensação, todos queriam segurá-la, dar balõezinhos, eu só pedia: - Não sujem antes de começar o jogo, vamos estreá-la novinha!
Chegou a hora que eu mais esperava, o momento de escolher os jogadores de cada time, como de costume, os dois garotos considerados melhores do pedaço foram encarregados de escolher os times, era feito assim para não ficar os dois no mesmo time - se isso acontecesse desanimava o time adversário - de um lado Naldo, do outro Picolé (apelido por apostar picolés nas disputas de pênaltis, normalmente ganhava). Esse momento era muito importante, pois, normalmente, eu era o último ou um dos últimos a ser escolhido e, para piorar, sempre ficava para fora, acabava jogando muito pouco, mas naquele dia eu era o dono da bola, tinha que ser diferente. Começou a escolha, eu fiz questão de ficar com a bola debaixo do braço mostrando que o dono da bola estava ali e pronto para brilhar. Não fui o primeiro, mas fui o quarto do meu time, estava ótimo, caminhei todo orgulhoso e já joguei a bola no chão oferecendo-a aos meus companheiros, como se dissesse ao outro time:
- Viram, vocês não me escolheram antes, agora nós já estamos chutando a bola novinha!
Pronto, bola novinha no centro do gramado, digo, quase gramado, explico, grama mesmo era só alguns pedaços, a maior parte era terra dura. Mas vamos ao que interessa, bola reluzindo no meio do campo, eu fazendo aquecimento, quando o Naldo alertou:
- Estão passando dois jogadores no time de vocês e um no nosso! - Picolé olhou para todos e disse: - Tino e Cipó esperem lá fora, logo vocês entram! Aquilo foi um choque para mim, precisava tomar medidas drásticas, tinha que dar a carteirada, digo, bolada, do tipo – vocês sabem com quem estão falando! – e disse: - Eu tenho que entrar jogando!
Por que você tem que entrar jogando? – Perguntou Picolé, aparentando irritado.
- Oras, eu sou o dono da bola, se eu não jogar eu levo a bola e ninguém joga. – Falei com autoridade e peito estufado.
Os dois times se olharam, como se perguntassem – e agora? – Nesse instante, Picolé pegou a bola do meio do campo, chegou perto de mim e empurrou-a contra o meu peito e disse: - Então leva embora e some daqui.
Eu imaginei que alguém iria me defender, não porque gostasse muito do meu futebol, mas por interesse em jogar com a bola nova, mas ninguém falou nada, inclusive o Fininho correu perto do gol, pegou a bola velha soltando gomos e colocou no meio de campo e começou o jogo.
Bem, se eu tinha dúvidas se era ruim de bola, naquele dia comprovei que era muito ruim, nem sendo dono da bola resolveu meu problema.

terça-feira, 8 de junho de 2010

VIDAS CACETEADAS

Nós estamos acostumados a assistir, não só na televisão brasileira, mas uma mania mundial, as chamadas Vídeos Cassetadas, são cenas do dia a dia de pessoas comuns retratadas em momentos desagradáveis, são cenas de tombos, escorregões, trombadas, bolo na cara, cerimônias de casamentos desastrosas, enfim, são inúmeras cenas da desgraça alheia que nós, seres humanos, ao invés de nos compadecermos, rimos, muitas vezes, rimos só de lembrar. É até constrangedor, no seu dia-a-dia, um amigo ou um familiar escorrega e cai, normalmente não conseguimos nos segurar e, ao invés de ajudar, prestar nossa solidariedade, rimos, depois ficamos pedindo desculpas e tentando nos controlar para não rir novamente.
Cada pessoa tem um mico ou um fato desastroso e engraçado pelo qual passou ou viu e que não foi possível filmar. Eu já presenciei vários fatos, um ocorreu quando um certo pastor foi fazer a pregação na igreja onde eu estava, ele muito empolgado, fazia uma bela pregação, falava com eloqüência, quando tentou apoiar no púlpito e fazer uma indagação intimista: - Meus irmãos, sejam sinceros, vocês... - Nesse instante o púlpito, que era leve, tombou para frente, o pastor tentou segurá-lo, não conseguiu e desceu agarrado a ele os degraus que o separava da platéia, para piorar, quando chegou ao final dos três degraus ainda bateu com a testa na tábua do púlpito o que lhe proporcionou um belo galo. Ouvindo a platéia rir sem parar, com muita classe o pastor se levantou, ajudado por alguns fiéis que lhe pediam perdão por estar rindo, levou o “bendito” púlpito lá para cima, tentou retornar à pregação, mas cada vez que abria a boca o povo não se controlava e lá vinham os risos: - Chega, não dá mais - e foi embora.
Eu mesmo fui protagonista de uma cena constrangedora e desastrosa. Em 1971, com dez anos, morava numa cidadezinha do interior, cidade de mais ou menos nove mil habitantes, suas estradas eram todas de terra, não havia um palmo de asfalto se quer, naquela época, veículos motorizados eram poucos, principalmente por aquela região, existia mais as carroças de pneus de borrachas ou de roda dura, sem contar os carroções puxados por juntas de bois. Minha família tinha uma perua Rural, veículo motorizado apropriado para aquelas estradas poeirentas, cheias de buracos ou enlameadas. A Rural servia mais para transportar a família ou fazer entrega de mercadorias paras as pessoas que faziam compras no armazém do meu pai. Meus dois irmãos, cada qual tinham sua bicicleta, novinhas, por sinal, naquele sertão, quem tinha uma bicicleta já estava bem montado e as bicicletas deles eram moderníssimas; meu irmão mais velho, que era mais sistemático, mantinha sua bicicleta sempre impecável, até com um certo exagero, sua bicicleta tinha buzina, dois retrovisores, fitilhos nas duas extremidades do guidão e nas alavancas do freio, capa para o assento (selim), era um luxo só. É claro que havia bicicletas mais ousadas, ou mais bregas com flores de plástico no guidão, rádio, volante de carro, latinha nos raios para fazer barulho e chamar a atenção por onde passava, era a chamada bicicleta-bazar. Bem, as bicicletas dos meus irmãos não chegavam a tanto. A minha, por sinal era uma bem antiga, era de “terceira ou quarta” mão, mesmo assim, estava contente. Todas as manhãs, eu pegava minha bicicleta velha e ia buscar leite na casa da minha irmã que morava na vila de baixo. Numa certa manhã eu devia buscar o leite, havia chovido muito durante a madrugada, a estrada era um barro só, peguei minha bicicleta e já nas primeiras pedaladas arrebentou a corrente, não dava mais para ir, minha mãe deixou claro que devia buscar o leite de qualquer forma, caso contrário iria estragar, pois não havia geladeira na casa da minha irmã. E agora? Meu irmão do meio havia saído com sua bicicleta, sobrara apenas a do meu irmão mais velho, o difícil seria convencê-lo a emprestar o seu tesouro. Minha mãe teve que impor sua autoridade, ele fez um discurso e me fez prometer que iria num piscar de olhos, tomando o máximo de cuidado com sua princesa. Coloquei o litro vazio para trazer o leite na garupa da bicicleta, montei naquela máquina e já me senti nas nuvens, toda novinha, bonita, enfeitada, imaginei-me até mais bonito, fazia questão de passar perto de onde moravam meus amigos para que todos vissem, foi um sucesso, afinal era a primeira vez que meu irmão permitia usar sua bicicleta.
Tudo corria maravilhosamente bem, eu desviava das mínimas poças d´água e tentava não sujar a bicicleta, de repente, como num passe de mágica, olhei a minha frente e vi, a uma certa distância, vinha a loirinha pela qual eu era totalmente apaixonado, seus olhos verdes me deixavam maluco, lá estava ela, pensei: - Foi Deus que a colocou no meu caminho! Exatamente naquela hora que eu estava bem montado, seria demais, não tinha como ela não me notar. Continuei descendo com “meu carrão” e ela a pé. Pensei: - Quando passar perto direi um “oi” que ela nunca mais esquecerá, afinal, estou irresistível. Estávamos atravessando num caminho ao lado de um campo de futebol que ficava bem perto da igreja católica. E, quando eu disse caminho, eu não quis dizer estrada nem carreador, pois, estradas são relativamente largas e carreadores são estreitos, os caminhos são um meio termo, por ali passavam pessoas a pé, de bicicleta, de carroça... nesta ultima é que estava o problema, explico o porquê: dias antes da chuva havia passado uma carroça de roda dura e fez um rego, ou seja, um sulco no chão. Voltando a cena anterior, lá ia eu montado na minha máquina possante, começava a me preparar para dar o tão planejado “oi”, sabia que ela não era indiferente a minha presença, até já havia falado para minha mãe que gostava de mim, sentia que agora seria o golpe de misericórdia, ela não me esqueceria facilmente. Fui me preparando emocionalmente, chegando perto, para impressionar mais, soltei as mãos do guidão e segurei apenas nos fitilhos presos às luvas que cobriam as alavancas do freio, aí foi meu grande erro, pois, como foi difícil para aquelas luvas entrar nas alavancas do freio o meu irmão tinha passado óleo Sínger para ficar liso e facilitar a entrada, e, como tudo que entra fácil pode sair fácil, já imaginam no que deu! Quando estava chegando perto da minha princesa encantada a roda da bicicleta caiu dentro do rego feito pela roda dura da carroça, a bicicleta desgovernou, eu tentei segurar pelos fitilhos, nesse bendito momento um dos lados escapou e eu me “esborrachei” na lama, isso a poucos centímetros dos pés da amada que ao invés de me ajudar passou a rir de uma forma descontrolada, eu ali caído, todo enlameado, olhando para o farol da bicicleta quebrado e imaginando o problemão que teria com meu irmão e ela tirando sarro na minha cara. Depois daquele dia a paixão acabou, para piorar ela espalhou o mico para todo mundo da escola onde nós estudávamos. Posso dizer que meu primeiro amor não suportou a primeira “barreira” ou seria “lameira”?

quarta-feira, 31 de março de 2010

SERIA TRÁGICO SE NÃO FOSSE CÔMICO – DE NOVO

Um professor de história de uma escola pública, sempre viveu modestamente, mas sempre foi apreciador dos grandes pintores, e sabia o valor de uma obra de arte, um dia foi convidado por um amigo, professor da Universidade Federal, para ir com ele até um hotel de luxo no centro da cidade, pois iria se encontrar com um amigo da época de faculdade. Chegando ao hotel o professor de história ficou estático, estava diante do maior e mais famoso pintor da sua época, seus quadros eram concorridíssimos e sempre vendidos por valores altíssimos, só sua assinatura num quadro já valia milhares de dólares. O pintor convidou para entrar, abraçou calorosamente o amigo professor universitário que em seguido apresentou seu amigo professor de História, a noite estava memorável, bebiam vinho francês caríssimo enquanto falavam de política, esportes, mulheres, festas, futilidades, tudo estava indo bem até que o professor universitário recebeu um comunicado pelo celular, informavam que sua mãe não estava passando bem e que ele deveria ir imediatamente ao hospital, foi o que fez, se despediu do amigo pintor, mas quando o professor de História se levantou para acompanhar, o amigo o pintor pediu:
- Por que não fica aqui enquanto ele vai lá? Se ele não voltar eu o levo em casa!
Como o amigo universitário também sugeriu e o vinho, o fundi e o papo estava bom ele ficou. A noite corria muito bem quando o professor História perguntou ao pintor se as inspirações surgiam assim do nada, o pintor disse que sim e emendou:
- Inclusive neste momento estou a fim de pintar alguma coisa. -Assim o fez, pintou e assinou a obra, ali ficaram conversando, quando o professor resolveu ir para casa, como o pintor concordou que não tinha condições de dirigir, um táxi foi chamado, nas despedidas, muito embriagado o pintor pediu desculpa por estar fazendo o professor gastar com táxi já que havia prometido levá-lo em casa, e inesperadamente ofereceu o quadro pintado, o professor muito feliz aceitou imediatamente.
Naquele restinho de noite quase não dormiu direito, acreditava estar sonhando: o encontro, o quadro que valeria uma nota preta, sem contar o orgulho de falar aos amigos que tinha um... - Quando o dia amanheceu, esperou o amigo marceneiro abrir seu estabelecimento e já foi pedindo para fazer a mais bela moldura que ele conseguisse: - É para colocar o que?
- É está pintura. - Ele não quis falar o valor do quadro para não correr riscos do amigo comentar com alguém e ser roubado.
Como o marceneiro não entendia nada de pintura, a não ser pintura de parede, não faria diferença.
- Posso ficar com o quadro para tirar as medidas? – Perguntou o amigo marceneiro.
- Pode, mas muito cuidado!
O professor de História estava ansioso, ligava todos os dias para saber se estava pronto até que: - Professor pode vir buscar que a moldura está pronta.
O professor pegou o carro e foi voando para lá:
- Olha professor ficou lindo de mais, pra ser sincero nunca fiz nada com tanto capricho!
- É, tenho que admitir ficou muito bonito mesmo, mas e a pintura, porque ele já não está na moldura?
- Sabe professor, essa moldura é muito bonita e...
- Fala logo, onde está meu... – o professor estava nervoso, temia pelo pior.
- Sabe que somos amigos há muitos anos, né!
- Tá bom, mas onde está a pintura!
- Meu filho botou fogo num plástico, estava rodando-o, de repente, uma bola com fogo escapou do plástico que caiu bem em cima daquela pintura fazendo um buraco enorme bem no meio do quadro, sabe como é criança, – o professor estava vermelho a ponto de estourar quando o marceneiro completou – mas também, linda como está a moldura nem combina com aqueles rabiscos chinfrinhos, né!
Você não vai me obrigar dizer o que o professor fez e o que recomendou ao ex-amigo marceneiro fizesse com a moldura, vai?

domingo, 28 de março de 2010

SERIA TRÁGICO SE NÃO FOSSE CÔMICO

Um repórter de um grande jornal cobria a copa do mundo de 2002 quando na partida final a Seleção Brasileira venceu a Seleção da Alemanha. Terminado o jogo a Seleção Brasileira tornou-se tetracampeã, foi ai que começou o sufoco para o repórter, ele tinha a incumbência de entrevistar alguns jogadores e conseguir alguns furos para seu jornal e, ao mesmo tempo, tentava conseguir autógrafos dos jogadores na camisa que usara para torcer, o problema é que todo mundo estava tentando pegar alguma recordação daquele jogo, ele continuava sua peregrinação, mas não estava fácil, depois de muito sufoco e comemorações os jogadores se recolheram ao vestiário e, infelizmente nesse instante o repórter notou que faltavam assinaturas de cinco titulares, mas estava determinado a conseguir as outras, tentou entrar no vestiário, mas o tumulto na porta era muito grande: jornalistas, torcedores, era uma bagunça geral, os seguranças e policiais tentavam a todo custo manter a todos afastado do local, por duas vezes ele tentou entrar e foi barrado até com uma certa violência, foi empurrado e até xingado, não estava fácil, o repórter sábia que só haviam duas possibilidades: entrar na marra ou desistir, ele preferiu optar pela primeira, num pequeno descuido, enquanto os seguranças e os policiais tentavam conter o grupo que se aglomerava diante da porta do vestiário ele forçou a barrava e entrou, um segurança tentou agarra-lo, ele conseguiu escapar com alguns arranhões e correu para onde estavam os jogadores, dois seguranças vieram correndo atrás, mas nesse momento o jogador Ronaldinho disse que podia deixa que ele conhecia o rapaz, ai foi aquela festa, conseguiu autógrafo de todos os jogadores titulares, do técnico e até de alguns reservas, foi a glória. Uma vez fora do vestiário o repórter mostrou a camisa toda autografada para um amigo que era empresário no ramo de confecções e que estava assistindo a copa, o empresário ofereceu seis mil dólares para ele permitir que a camisa fosse clonada e colocada a venda, mas o repórter queria ser um dos únicos a ter uma camiseta assinada por todos os jogadores, não aceitou e, orgulhoso do feito, levou aquele troféu precioso para casa.
De volta ao Brasil, quando chegou em seu apartamento, na bendita secretária-eletrônica já havia uma mensagem do chefe de redação para que ele fosse cobrir um evento no sul do país, não teve tempo nem para desfazer as malas e descansar, deixou a roupa suja pegou outras limpas e votou ao batente, cinco dias depois estava de volta para casa, abriu a porta do apartamento e já avistou a senhora que ficava com uma chave para que, três vezes por semana, desse uma arrumada no apartamento, assim que ela o avistou já se achegou cheia de cordialidades: - Patrão, que bão ver o sinhor de vorta – depois dos cumprimentos emendou – deixa que eu carrego a mala – deu dois passos e completou – ó patrão, aquelas ropas suja que o sinhô dexô eu levei tudo pra lavá, só teve uma que deu um trabanhão, tava cheia de rabisco, mais com muito esforço eu limpei tudo, fico uma belezura.
Não vou contar o resto da história para que não fiquem com pena da ex-empregada.

O FIM DO REINO EDUCAR

Num tempo não muito distante, numa região muito bonita, com campos verdejantes, jardins bem cuidados, estava localizado um belo castelo que ficava dentro do reino Educar. Ele era diferente da maioria dos castelos, pois dentro dele havia muita alegria e sabedoria, era habitado principalmente por crianças, adolescentes e jovens, adultos, constavam em números bem menores, era uma gente esperançosa.
O rei Thôr era quem comandava esse reino, sendo ele eleito pelos ministros-mestres e pelos outros habitantes do reino.
Na realidade o sucesso do reino dependia muito do trabalho desenvolvido pelos ministros, conhecidos como mestres. A função principal dos ministros-mestres era de preparar novas gerações e distribui-las para povoar e melhorar outros reinos.
Os habitantes do reino Educar saiam, na sua maioria, preparados para exercerem as mais diversas atividades, dentro do próprio reino Educar e, com mais freqüência, para outros reinos.
Fazendo divisa com o reino Educar haviam outros reinos, dentre eles, o reino da rainha Ygghy Norância, ela não gostava das atividades dos moradores do rei Educar, achava que os habitantes daquele reino saiam muito informados e não se sujeitavam aos mandos e desmando de pessoas despreparadas, dizia ainda que eles ajudavam a encarecer a mão de obra e o pior, tinham a mania de formar opiniões, criando oposição aos seus desmandos e falcatruas.
Havia também o reino do rei Pres Sor, que também não gostava dos habitantes do reino Educar, pois, segundo ele, adquiriam a péssima mania de ser tornarem contestadores, não se deixarem enganar com facilidade e tinham a petulância de quererem ser livres e se acharem com direitos.
O rei Lapso também achava a vida no reino Educar muita chata, pois ele já fora súdito de lá, sem contar que seus habitantes tinham o péssimo hábito de ficar buscando melhorias, aprimoramentos e isso deixava o povo mais exigente.
Numa determinada época a rainha Ygghy Norância, o rei Pres Sor e o rei Lapso, se uniram, decidiram invadir o reino Educar e acabar com tudo que acontecia ali, sob alegação de que eram subversivos e contrários à ordem, a moral e os bons costumes. Inicialmente minariam as forças dos habitantes daquele reino, assim, primeiramente cortaram as provisões que iam para lá, também bloquearam as verbas que serviam para equipar o reino Educar e pagar os ministros, com isso a qualidade de vida no reino começou a cair, com fome e sem meios para comprar novas armas-livros o reino Educar foi enfraquecendo, seus habitantes começaram a se desinteressar, pois não viam muitos objetivos em continuar ali, em seguida proibiram a entrada de novas armas-livros além de queimar as existentes sob alegação de serem perigosas para a sociedade, a partir daí o reino começou a ficar totalmente desprotegido. Súditos que já não gostavam de estar ali até elogiaram a intervenção, a maioria deles mudaram-se para o reino do rei Lapso que divulgava as vantagens de estarem ali, pois não teriam que perder tempo, teriam mais atividades prazerosas e viveriam livres e mais intensamente.
Alguns sábios ministros-mestres foram expulsos do castelo, outros foram para as masmorras do castelo do rei Pres Sor que passou a monopolizar seus conhecimentos para oprimir ainda mais o povo, os mais ativistas e combativos foram eliminados.
A princípio, os ex-moradores do reino Educar não estranharam, até gostavam de poder escolher em qual reino podiam morar, tendo a sensação de descompromisso. No reino da rainha Ygghy Norância, mesmo aqueles que nunca foram brilhantes, se sentiam importante pois tinham um conhecimento superior aos outros habitantes daquele reino. Os que foram para o reino do rei Pres Sor, passaram a exercer funções de guardiões, de fiscais e até de espiões, funções que exerciam com força e autoridade e, principalmente, com autoritarismo. Os que optaram pelo reino do rei Lapso se sentiam livre para fazer o que queriam sem responsabilidade e sem cobranças, como era de costume naquele reino, ninguém era cobrado em nada desde que servissem o rei.
Em pouco tempo a maioria dos ex-súditos do reino Educar já havia esquecido do rei Thor e dos seus ministros-mestres, acreditava que estava aproveitando melhor a vida.
Bastaram alguns anos para os reinos começarem a sentir falta das produções e dos serviços oferecidos pelos habitantes do reino Educar: O povo morria nas mãos de médicos despreparados, negligentes e charlatães, construções desabavam com freqüência, a sociedade regrediu, os avanços tecnológicos começaram a desaparecer, a mão de obra ficou muito barata e com uma qualidade muito ruim, o povo estava mais pobre, e os governantes mais tiranos, as pessoas estavam muito mais agressivas e mal educadas, as palavras: por favor! Desculpe-me! Com licença! Simplesmente desapareceram do linguajar do povo, caiu em desuso, aumentou a violência, a miséria e a escravidão, o povo perdeu o poder de argumentar e de contestar. A democracia, que já não era grande coisa, foi extinta, o povo começou a ficar assustado e saudosista de um tempo de fartura, avanços e melhor nível de vida. Agora as pessoas estavam mais fanáticas e eram enganadas com facilidade.
Alguns líderes de aldeias, tribos e cidades tentavam entender como chegaram àquela situação. Finalmente chegaram à conclusão de que tudo aquilo estava acontecendo por eles terem se acomodados e não lutado pelo reino Educar. Mas e agora, o que fazer? Como reconstruir o reino Educar? Como lutar contra rainhas e reis maus?
Depois de muitas reuniões na clandestinidade, decidiram que deveriam preparar o povo para a luta contra esses reinos e resgatar das masmorras os ministros-mestres que ainda estavam vivos.
As batalhas tiveram início, foram lutas duríssimas, muitas vidas foram perdidas, pois as poucas armas-livros que existiam estavam escondidas pelos poderosos que as usavam contra os súditos, outras estavam escondidas por alguns destemidos ex-súditos do reino Educar. O levante foi grande, vários reis e rainhas foram derrubados pela vontade do povo, mas nenhum deles foi eliminado, assim eles continuaram com seus exércitos particulares e agindo para voltarem ao poder. Os ministros-mestres que foram expulsos, voltaram para o castelo, o rei Thôr foi novamente reconduzido ao trono e o reino Educar, lentamente, foi sendo reconstruído. Muita coisa teve que ser feita, os ministros-mestres tiveram que serem treinados novamente para usar com eficiência as poderosas armas-livros além de outras novas armas mais modernas, mas durante muitos e muitos anos o povo ainda continuou sofrendo nas mãos de tiranos que continuaram oprimindo e atrapalhando os trabalhos no reino Educar.
Mesmo após a revolução, alguns adeptos do reino do rei Lapso, da rainha Igghy Norância ou do rei Pres Sor, se passavam por parceiros e, enganando o povo, assumiram funções importantes no poder do reino Educar, prometiam muito, faziam pouco e, ainda, jogavam culpa na incompetência dos líderes do reino Educar, mas pouco faziam para ajudar. Enquanto isso o povo continuava oprimido, miserável e com poucos recursos para melhorar suas condições de vidas.
Pelo sofrimento o povo aprendeu que a vida no reino Educar, pode parecer chata e desnecessária, mas sem ela os temíveis rei Lapso, a rainha Igghy Norância, rei Pres Sor tomam conta de tudo e, a probabilidade de serem levados para devastador império do rei Trocesso é muito grande.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

COM FIGURA ANDO A NARRA AÇÃO

Irei lamber as palavras até sentir seu gosto subentendido e, com minha caneta mágica, farei aparecer idéias que darão voz e significado à página em branco.
Farei estágio na escola de artes do Mestre Entardecer e aprenderei as técnicas de pintar tão belos findar de dias e assim ilustrarei as páginas da minha vida.
Vou desgastar a água até que possa sentir o cheiro do oxigênio que a compõe.
Vou sabotar a chuva com capa plástica e por fim assumí-la até que suma em mim.
Vou me empanturrar de vida até não sobrar espaço para a morte.
Vou olhar, cheirar e me expor às paisagens em tal e com tamanha intensidade até que elas se incorporem em mim e assim poderei vê-las e senti-las onde eu estiver.
Quero sentir o hálito da boca da noite enquanto ela devora tudo que encontra pela frente e quero me encantar com a luz da lua enquanto sabota a escuridão da noite.
Vou tragar e incorporar o frio, depois convertê-lo em vapor quente e expô-lo em fumaça que sai da minha boca.
Seguirei o descaminho para chegar onde eu não deveria ter saído.
Curtirei a vida em temperos finos para torná-la mais saborosa.
Injetarei tanto amor em mim que ocupará cada vaso sanguineo até inundar meu coração e minha mente, depois farei doação de amor até que todos os bancos-de-amor estejam com seus estoques abundantes.