quinta-feira, 29 de outubro de 2009

UM GRANDE AMOR PARA VIVER – Parte II

TRILOGIA – AMORES E DESAMORES – PARTE II

Eu estava com vinte e poucos anos e já contabilizava muitas mulheres na minha vida, mas já estava ficando angustiado, pois não conseguira ainda viver o tão propagado “grande amor”, mas eu tinha certeza que ele aconteceria e este seria meu objetivo de vida. Eu conheci amigos que trocou um grande amor por quantidade e se arrependeu
Os anos se passavam e eu zombava de amigos que se casavam jovem demais e normalmente se dizendo muito apaixonado, no fundo, confesso, tinha muita inveja, como muitos tinham inveja da facilidade que eu tinha para conquistar mulheres ou para atraí-las, mas no fundo trocaria todas pela tão esperada.
Tornei-me professor universitário, até acreditava que não meio de tantas mulheres daria mais oportunidade à chegada do grande amor, e me colocava a disposição, não me negava a elas, sempre fui muito dedicado, era o mais carinhoso possível: se elas gostam de homem carinhoso, cheiroso e romântico eu fui, namorei sempre mais de uma, queria ganhar tempo. Era sempre gentio, tanto com as casadas como com as solteiras, com o tempo ganhei fama de mulherengo e enganador, isso começou a afastar algumas e eu ficava triste, pois estava dando oportunidade para o azar, meu grande amor poderia ser uma dita certinha, mas eu segui na busca.
Fazia de tudo para impressioná-las, gastava muitas vezes o que não tinha - flores, teatros, cinemas, jóias, bons restaurantes - e, na maioria das vezes, conseguia, mas quando percebia que não era quem eu esperava seguia meu caminho as deixando chorosas, confesso que não gostava dessa parte, nunca gostei de ver mulheres tristes, chorando. Sorrindo elas são mais belas, inclusive, mulheres deveriam sorrir mais, elas não sabem o quanto ficam sedutoras.
Mulheres devem ser tratadas com carinho, muita atenção e dedicação, em contrapartida elas nos dão o que de melhor um homem dedicado pode merecer.
Eu nuca quis apenas usar as mulheres, eu as adorava e, por cima, sempre tive a esperança do grande amor, por diversas vezes imaginei estar vivendo um grande amor, mas bastava aparecer outra e lá estava eu, caído por ela e sendo visto como canalha pelas outras.
Os anos estão passando, não sou mais um garotinho, estou me desesperando, por onde andará a mulher que me foi reservada? Onde se encontra o “meu grande amor”? Será que cometi um erro tão grande que perdi o direito a ele?
Meu nome é Petter, o trecho acima eu retirei de parte do diário do meu mestre e amigo Nill, com era chamado, prefiro omitir seu nome. Eu o conheci quando ele foi meu professor de Sociologia e Filosofia na universidade em que cursava, eu fiquei encantado com seu jeito fácil de se relacionar com as pessoas e, principalmente, com as mulheres, eu cursava História e me prontifiquei em estar perto dele e aprender tudo, sua inteligência e sua facilidade com as mulheres, não foi difícil me enturmar, ele gostava de barzinho e da vida boêmia, amava wisque e vinhos dos melhores, eu não bebia, mas tive que aprender, ele era maravilhoso, sempre o vi com um Dom Ruan, ele sempre ensina a quem quisesse ouvir que um homem deve ser livre e que as mulheres gostam de homens livres, sonham em prendê-los para apresentar às amigas como troféu.
Numa noite estávamos bebendo num barzinho cercado de belas mulheres e uma notícia abalou Nill, ficamos sabendo que uma de suas ex-namoradas havia se suicidado por não aceitar a separação, eu senti que a partir dessa data ele ficou mais reservado e passou a beber mais. Ele já não era tão garoto, estava com mais de trinta e cinco anos, pelo seu exagero nas bebidas foi dispensado de algumas universidades e, passado um tempo, convidou-me a morar com ele, pois estava se mudando para uma cidade nova e estaria dando aula em uma outra universidade, com eu, até então era sustentado pelo meu pai e, agora estava formado e deveria buscar o meu caminho na vida, aceitei.
A casa não era muito bonita, a cidade não era tão grande, mais ou menos sessenta mil habitantes, foi lá que a situação piorou e ele passou a beber mais, nossa casa tinha litros e litros de wisque, muitos livros espalhados e freqüência de mulheres cada vez de níveis mais baixo, ele passou a freqüentar mais bordeis e boates, tinha a honra de dizer que ainda não estava precisando pagar às mulheres. O seu salário já era pouco e ele se encarregava de diminuí-lo com bebidas, como eu o acompanhava também tinha dificuldade em encontrar um emprego que me pagassem bem, era free lance, escrevi para alguns jornais, página na internet, aulas particulares e até jardinagens e pinturas de casas eu fiz.
A primeira e surpreendente descoberta em relação ao Nill foi quando ele me confessou que sua maior decepção foi nunca ter encontrado um grande amor, que se isso tivesse acontecido ele não teria dúvidas em vivê-lo com toda intensidade que um grande amor merece, iria cuidar e zelar tanto dele que poderia até sufocar a amada, nesse dia ele não estava tão bêbado e chorou muito, aquilo me deixou chocado, ele sempre fora meu ídolo, não na bebedeira, mas na independência e na imunidade ao amor, eu comecei a repensar o que estava fazendo com minha vida, pois diferente dele, eu lutava contra alguns amores que costumavam doer meu peito e eu resistia, não queria me mostrar frágil. Daquele dia em diante ele perdeu o medo de falar sobre sua expectativa em busca do tão sonhado “grande amor”.
A segunda e surpreendente descoberta foi quando apareceu uma garota de dezoito anos dizendo que era sua filha, que ficou sabendo há menos de um ano e que decidira buscar seu pai, disse que soubera após uma briga com seus avós, pois fugira de casa pela quarta vez, e se relacionava com pessoas que eles não aprovavam, na raiva a história saiu, o avô contou que sua mãe havia suicidado, ela estava grávida de oito meses e, milagrosamente, conseguiu ser salva. A principio Nill não aceitou a idéia de ter uma filha, brigou, esperneou, tentou expulsá-la, disse que não cuidava nem dele, quanto menos de uma pirralha, mudou até de casa para tentar se livrar dela, mas a linda garota, que mesmo Nill negando, era sua filha, tinha seu jeito, seu olhar e sua determinação, nessa época Nill estava com cinqüenta e um anos, trabalhando pouco, bebendo muito e tendo diversas mulheres a seu dispor, pois, apesar de seus cabelos grisalhos e um pouco mais gordo, continuava galanteador e bonito.
A menina disse que iria mudar sua vida e a de seu pai e foi perseverante, começou jogando toda a sua bebida fora, no que Nill ficou muito bravo, brigaram muito, mas ela era determinada e estava conseguindo domá-lo, eu já via Nill falando com certa preocupação em relação a ela, até expulsando de forma mais grosseira alguns rapazes que ele não achava ideal para ela. Nill começou a exigir que ela concluísse seus estudos, o que a garota relutou muito, já saímos a três e Nill zelava muito por ela, dançavam muito, Nill adorava dançar.
Nill me confessou, estava amando, amando como nunca esperava amar, e, por incrível que pareça um amor totalmente diferente do que ele esperava, amava sua filha, não como homem e mulher, mas como pai e filha.
Algo estava acontecendo comigo também, eu começava a me preocupar e até sentir ciúmes daquela linda garota, percebi que Nill já havia notado, sutilmente ele começou a me dar uma força.
Nill nunca parou totalmente de beber, mas evitava que sua filha o visse bebendo, e ela, por sua vez, quando descobria ficava muito brava. Eu via aqueles cuidados e a achava linda sorrindo ou brava daquele jeito, eu estava amando.
Pouco tempo após a formatura de sua filha, que foi uma grande festa, Nill faleceu de cirrose aos cinqüenta e quatro anos. No dia do seu velório não havia muita gente, destacavam diversas mulheres de preto e que choravam muito, uma garoa fina, de certa forma também chorava por Nill o homem que buscou tanto o grande amor e o encontrou na mulher mais improvável.
Hoje estou casado com a filha de Nill e nos amamos por nós e por ele, uso com ela todas as técnicas de conquista que Nill me ensinou, com uma diferença, não para conquistar outras, mas para conquistar minha amada todos os dias.

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