quarta-feira, 4 de novembro de 2009

DE REPENTE AMOR - PARTE III

TRILOGIA – AMORES E DESAMORES

Mulheres, ah, mulheres! Como são belas e cheirosas, como são macias e dengosas, são complicadas e tão fáceis de serem entendidas, são quentes e são frias, são amáveis e furiosas, são chorosas, como são chorosas! Também são risonhas, e quando riem é como a primavera com suas flores e seu perfume, como um arco-íris após um dia de chuva. A vida ao lado delas pode ser um paraíso ou um inferno, mas sempre será um grande jardim de rosas de todas as cores, com sua beleza, seu perfume... e com seus espinhos.
Eu vivi as mulheres, eu convivi com mulheres, era um apaixonado por mulheres, mas nunca amei nenhuma em especial. Nunca me imaginei abdicando do direito de ter várias mulheres para viver somente ao lado de uma. Nunca vi as mulheres apenas como um objeto sexual, não, as mulheres sempre foram objetos de devoção eu as tratava assim, dava muito carinho, zelo, cuidados, falava o que elas queriam ouvir e elas me devolviam em carícias e tudo o que uma mulher pode oferecer de melhor a um homem. Sempre caprichei em levá-las aos melhores lugares, gastava sem piedade, para mim não era despesa, mas um investimento que valia a pena. Mulheres! Ah, mulheres! Como são apaixonantes.
Sei que fiz diversas sofrerem, mas também sei que muitas receberam tanto amor como nunca haviam recebido e talvez nunca mais receberam, também sou modesto, perceberam!
Eu já estava marcado por ser mulherengo e era até um homem incompreendido, mas sempre elas se arriscavam, pois sempre há mulher que sonha em fisgar um namorador, e, especialmente os solteirões convictos, mas eu resistia, amor nunca fez parte do meu currículo, talvez quando era adolescente havia sentido algo muito forte, mas ela foi embora da cidade e eu sofri, deve ter sido paixão, foi aquela vez e nunca mais. Quando eu saia da vida de uma ou outra mulher sempre me dava uma ponta de tristeza, mas me consolava nos braços de outras.
Nunca fui contra o casamento, somente sou alérgico a ambientes fechados, por isso nunca pensei em me amarrar a uma mulher, amar não fazia parte do meu vocabulário, ouvi de mulheres e amigos que ainda terminaria velho e sozinho, isso não me assustava, quem garante que você envelhecerá ao lado da pessoa que você ama? Ao mesmo tempo não havia sentido a sensação de um grande amor, porque então me unir a uma única mulher! Para enganá-la? Para exibi-la como um patrimônio somente meu? Eu sempre imaginei que um grande amor devia ser cuidado, zelado, acarinhado, e que deve haver por parte dos amantes sempre a preocupação de saber se o outro está feliz, se não, o que um poderia fazer para o outro ser mais feliz, enganá-la nunca, até por nunca ter amado verdadeiramente, amor para mim era algo superior a tudo, por isso nunca me dispus a sentir isso, achava impossível para mim, eu era um potro selvagem que gostava mesmo era de correr pela campinas sentido o vento da liberdade entrando pelas narinas, aceitava até que belas amazonas montassem em mim, mas sem arreio e muito menos cabresto.
Sempre fui de muitos amigos, festas, bebidas, jogos e mulheres. Outra paixão: a noite, adorava a noite e toda a magia que ela oferece.
Já estava com mais de trinta anos, dirigia uma empresa e estava me mudando para outra filial, numa noite resolvi fazer uma despedida com funcionários e familiares, durante a festa uma namorada, que trabalhava na empresa, estava brava comigo por ter descoberto um outro caso, decidiu não ir à festa. Tudo transcorreu maravilhosamente bem, ao final da festa uma das professoras de cursos, veio até a mim e me apresentou sua filha, uma bela garota, notei que era jovenzinha, soube depois que tinha apenas vinte um anos, cara de anjo, merecia uma atenção especial e eu fui galanteador, ela aparentemente aceitou o jogo, e eu solicitei que gostaria de buscá-la na faculdade para conversarmos mais, ela concordou, na noite marcada eu fui, saímos, fomos a um barzinho, ela muito sorridente, boa conversa, na saída dei lhe um beijo inesperado e ela aceitou, a partir daí passamos a nos encontrar, tudo normal para mim, pois continuava com as outras.
Os dias foram passando e ela sempre uma boa companhia para conversas e para rirmos juntos, mas sempre se mostrando muito difícil, não permitia que carícias “calientes”, eu não estava a fim de forçar nenhuma barra, gostaria que tudo acontecesse naturalmente, como sempre foi com as outras.
O tempo foi passando e eu comecei a não entender porque o que funcionava com as outras não funcionava com ela, não deveria ser assim, percebia que ela gostava de estar comigo, mas então porque se apresentava tão difícil, e eu não queria demonstrar que estava desesperado por não entender aquela resistência, comecei a sentir que estava ficando amarrado, queria cada vez mais estar ao lado dela, a presença de outras já não me satisfazia, aquilo era muito estranho para mim, comecei a ficar preocupado, sentia uma angústia a apertar em meu peito, sua presença me enchia de alegria e ao mesmo tempo de desespero, nunca planejei viver aquilo, brincara com fogo que agora me queimava. E como queimava, ela era o motivo das minhas distrações no trabalho, já a levava para a maioria dos eventos, os amigos de bares e festas começaram a estranhar e alguns até a desestimular a continuação daquele namoro. E aos poucos eu fui me afastando das outras, não totalmente, mas já havia reduzido muito, elas estavam percebendo a mudança.
Em uma viagem que estaria acontecendo em grupo ela foi e eu preferi ficar, sozinho me aventurei com outras mulheres e, no retorno ela ficou sabendo, e se deu o fim do relacionamento, a principio doeu, mas eu achei bom, de repente era a oportunidade para tudo voltar ao que era antes, mas não foi o que aconteceu, eu sai a caça de novas mulheres e elas vieram, mas não me faziam esquecê-la, em cada uma na realidade eu procurava ela, não tinha mais dúvida, era o amor. Como foi difícil admitir isso, era como areia movediça, quanto mais eu lutava para sair, mais me afundava, quanto mais eu lutava para esquecê-la, mais sua presença se fixava em meu coração. Quando decidi lutar por aquele amor ela já tinha outro e eu percebi que perdera chance de viver um grande amor, percebi tarde que trocaria todas por apenas ela, coisa que nunca passou pela minha cabeça: ser exclusivo de alguém, agora já aceitava a idéia. Eu estava amando como nunca imaginei, estava gostando até do seu jeito recatado. Percebi que nenhuma outra tinha o seu sorriso, o gosto da sua boca, seu toque, seu perfume, seu calor.
Decidi que ia recuperar aquela oportunidade de amar e busquei, e como busquei, mas ela estava decidida e irredutível, falava que gostava de mim, mas queria alguém que a amasse de verdade e sem ter que dividi-lo com outras, eu disse que estava mudado, mas meu currículo pesava contra mim, quem acreditaria que eu pudesse mudar, eu mesmo tinha minhas dúvidas. Lutei muito, mas ao final decidi que aceitaria sua decisão, eu acho que nem eu daria nova chance a mim. Seguiria minha vida, aquele amor ainda ocupava todo espaço no meu peito, mas eu fui a luta, passei a sair com outras, não tinha mais o mesmo sentimento, já não me achava tão superior em questão de amor, ao contrário era um homem derrotado, passei a ver as mulheres de maneira diferente, passei a brincar menos com os sentimentos delas, tinha a esperança que ainda encontraria um outro amor e dessa vez não deixaria a chance escapar.
Passado quase um ano, aquele amor ainda estava presente em meu coração, já havia me conscientizado que ela fora a vingança de todas que eu fizera sofrer, sentia que as previsões de envelhecer sozinho já era aceitável, ou talvez me unisse a alguém só para ter uma companhia, mas o destino é interessante, nos encontramos num lugar pouco adequado a um encontro romântico: num consultório médico, eu fazendo exames e ela como estagiária, nos olhamos, eu a parei e inventei um assunto, não tive vergonha de confessar que ainda sofria, mas que havia aceitado meu destino, ela me confessou que havia terminado com seu namorado, despedimos com a promessa de nos encontrarmos como bons amigos. Eu não resisti o impulso de buscá-la na faculdade e passamos a conversar como amigos, mas apenas amigos estava sendo muito doido para mim, com ser apenas amigo de uma pessoa que se ama tanto, mas não demorou muito e decidimos que nos daríamos mais uma chance e tudo terminou numa bela noite de casamento.
Os primeiros meses de casados foram de muito sofrimento, estava aprendendo a viver com uma mulher só, era como abandonar um vício, mas estava disposto a cumprir o que havia prometido, não queria perder aquele sentimento tão bom, digo, bom quando se pode ter ao nosso lado a pessoa amada, mas muito ruim quando não a temos, e eu não queria correr riscos.
No dia a dia do casamento aprendi uma grande lição: é muito mais fácil conquistar diversas mulheres do que conquistar a mesma todos os dias, todos os meses, todos os anos. Quando estamos conquistando novos e novos casos, caprichamos, damos o melhor, mas no dia a dia não temos como enganar por um longo tempo, não tem como cansar e se retirar, não podemos apenas encontrar a pessoa sempre cheirosa, bem vestida e preparada para mais um programa especial, mas é o dia a dia com toda a sua beleza e suas durezas.
Hoje sei que fiz a escolha certa, aprendi a viver a realidade, com suas alegrias, suas tristezas, com suas dores e suas fantasias, mas sempre amor.
Hoje noto que sabia muito de mulheres, mas pouco de amor e amor requer atenção, zelo, cuidados e carinhos, é como uma planta, precisa de todo cuidado para crescer bonita e viçosa.

A Mulher Que Eu Amo - Roberto Carlos

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