domingo, 25 de outubro de 2009

AMOR DO PASSADO - Parte I

TRILOGIA - AMORES E DESAMORES - PARTE I

Meus vinte e um anos não me davam segurança para ter certeza que ela era a mulher para toda a vida. Eu já estava descobrindo os prazeres que podia encontrar em mulheres mais liberais. Ela era pura, santinha demais para as minhas intenções, apesar dos seus dezoito anos, ela que fora criada em fazenda e frequentando igreja, era inocente demais para imaginar que eu já experimentava outros frutos, supostamente, proibidos.
Eu a amava muito, meu coração se enchia de alegria quando a via vindo em minha direção, ela era um anjo, parecia flutuar: sua boca, sua pele, seu cabelo, seu perfume, tudo me encantava, eu amava sua voz rouca, seu sorriso fácil e, por mais que a desejasse ardentemente, eu respeitava sua maneira recatada e sua inocência, não tinha coragem de exigir nada, nem prova de amor, estava tão apaixonado que amava até sua foto que eu carregava na carteira, mas apesar de tamanho amor, não resistia aos encantos e a liberalidade de outras e mais outras.
Estava vivendo a vida adoidamente, mas ela começou a perceber minha vida dupla, talvez alguém tenha alertadi-a, comecei notar que a cada dia ela se afastava um pouco mais de mim, percebia que estava perdendo-a. Ela não cobrava muito, mas era visível que sofria calada, seu sorriso estava triste, ela estava muito magoada e o pior, eu tinha consciência que ela não merecia viver aquela situação, sabia que estava sendo canalha, mas meus desejos eram maiores que minha consciência, a dúvida me deixava confuso: ou me entregar a ela e viver um grande amor e depois me arrepender por tudo que não fizera, ou viver os amores, os prazeres que outras podiam me dar e ver o que o futuro me reservara.
Imaginava que se me entregase totalmente a ela poderia me sentir um pássaro preso em uma gaiola de ouro e, naquele momento, preferia aventuras: voar, farrear, amigos, festas, mulheres, era muito a abandonar, adorava estar com ela, mas sentia inveja dos amigos por estarem livres, leves e soltos. E voei, voei para longe dela, ela ficou, ficou e chorou, apesar do sofrimento aparentava estar preparada, parecia saber que esse momento ia chegar, o pior, ela não tentou me impedir, aceitou resignada.
Eu Sabia que ela chorava, mas não me procurou. Por diversas vezes senti que deveria voltar e ocupar para sempre o lugar que era só meu, mas não voltei, não voltei por sentir que ela era muito pura e eu tão devasso, comigo ela seria infeliz.
Ela continuava morando na mesma casa, na mesma cidade, mas estávamos tão distante, em diversos momentos eu até achei que estava esquecendo aquele amor, isso me dava convicção que havia tomado a decisão certa, encontraria em outros braços o amor que sentia por ela, e quando esse amor chegasse já teria vivido o bastante para querer um amor daquele. - Isso é o que achava olhando pro meu próprio umbigo e imaginando que o mundo girava por minha causa.
Em diversos momentos de preocupação e ciúmes acompanhei alguns namoricos seus, nunca ia longe demais, algumas amigas sempre me contavam que o amor que ela sentia por mim atrapalhava seus namoros, aquilo me enchia de orgulho. No auge da minha arrogância tive certeza que ela não encontraria um amor como o que eu lhe dei, e, se ela esperasse, assim que me cansasse das aventuras, voltaria para ela e assim viveríamos uma bela história de amor.
Não demorou muito e alguém de longe apareceu, logo começaram a namorar, eles não tinham nada em comum, ele era diferente de mim, não daria certo, acreditei que ela continuaria a me buscar em outros amores. Eu estava errado, para minha infelicidade, só fui cair na real quando recebi um convite para seu casamento, entrei em desespero, pensei em procurá-la, mas a dúvida encheu meu coração: ofereceria o que? Dizer que me casaria com ela no lugar dele e abrir mão de tudo? Eu era muito novo, tinha muito a viver, como pensava – havia muitas mulheres esperando para me amar! Não, não iria me deixar aprisionar, então tomei a decisão - não atrapalharia seu casamento - e mais, no meu ataque frequente de egoícentrismo, acreditei que ela estava tentando me substituir, que era uma fuga e ela seria infeliz.
Um dia anterior ao do seu casamento eu viajei, fui fazer turismo, foram dias de boates, mulheres, bebidas, noitadas, amigos, foi maravilhoso, mas eu tive que voltar. Logo que cheguei já vieram me contar que ela estava linda, que ela havia chorado – eu pensava: - Chorou por estar pensando em mim, ela deve ter esperando que eu fosse impedir o casamento!
Por muito tempo fiz tipo, declarava que não me interessava de como ela estava, na realidade, eu não conseguia parar de pensar nela, algo estava saindo errado. Eu segui meu caminho, namoradas, mulheres fáceis, festas, amigos, bebedeiras, quando estava com outra só pensava nela, comecei a perceber que havia perdido o grande amor da minha vida, o pior, tinha notícias que ela estava muito feliz, passei a agir irresponsavelmente, morrer não seria um péssimo negócio, mas tinha que ser de uma forma natural, era tão orgulhoso que não gostaria que ela pensasse que teria sido por ela.
Agora, teoricamente, era um homem livre como um passarinho solto na floresta, estava cheio de amores, mas continuava prisioneiro daquele sentimento e estava caindo na real, ela estava conseguindo viver sem mim, mas eu não estava nada bem sem ela.
Pouco tempo depois do casamento ela se mudou da cidade, foi para bem distante, eu fiquei, o pior para mim, dela só ficou a saudade que fez morada em meu coração, saudade que se tornou minha mais fiel companheira, que dormia ao meu lado e acordava como se fosse minha sombra, era prisioneiro de um amor que reneguei.
Por mais que a procurasse, descobri tarde demais que outros lábios não tinham o mesmo sabor, em outros braços não encontrava o mesmo calor, por querer diversidade perdi a chance de viver o verdadeiro amor. Ela se tornou o passado mais presente do meus amargurados dias.
Os anos foram passando e eu a buscava em cada novo caso, depois de muito procurar acabei me unindo a alguém que imaginei ser um pouco parecida com ela, mas não adiantou muito, foi mais uma pobre vitima que cruzou meu caminho, hoje sei que ela sofre, sei que ela me ama, eu me esforço, mas não consigo ser inteiro, a maior parte de mim continua com o amor do passado.
Qualquer música que ouvíamos juntos, lugares que conhecemos e até cenas de filmes que vimos é uma parte dela a me punir. Tenho impressão que hoje a amo mais que amava naquela época, não se passa um dia que eu não pense nela. Hoje sei que na dúvida e na arrogância eu arquitetava meu próprio castigo. Ontem eu a fiz chorar, hoje quem chora sou eu.
Você amigo, pode até me perguntar: - Por que não a procura e tenta dar-lhe esse amor? Eu lhe repondo, eu perdi esse direito, perdi a melhor parte da história ou de construir uma história com ela. Sei que merecidamente ela é feliz, enquanto eu sofro. Depois de conhecer a parte que me coube na minha história percebi que perdi a chance de ser verdadeiramente feliz.
Perdoem-me as mulheres que me tiveram depois dela, não consegui ser inteiro, pois sou apenas o resto de um lindo amor, que por medo, ambição e egoímo perdi o direito de vivê-lo.
* Essa história é fictícia e serve para uma reflexão:
Um passado longínquo sempre nos dá a impressão de que seria melhor que o presente. Acredito que o dia a dia desgasta os relacionamentos e nós nos fixamos em uma idéia fantasiosa que aquele amor do passado teria dado certo, seria o amor para toda vida. Se assim fosse todos que se casam com o amor da juventude ficariam unidos e felizes para sempre.
Talvez, quem sabe e tantas outras dúvidas pode ser a nossa dificuldades em vivermos por inteiro e sem medo cada momento da nossa vida para não nos arrependermos depois. Invista na pessoa ao seu lado para não descobrir que mais uma vez, deixou passar um grande amor.

Amor I Love You - Marisa Monte e Arnaldo Antunes

Um comentário:

  1. Muito lindo!O amor, às vezes, surpreende.Principalmente, quando ele escolhe o tempo e o jeito de ser.O amor físico - esse no qual, o toque é necessário para consumir esse amar, torna-se maior ainda, quando se ama o intelecto do ser amado.Aí , torna-se desesperador amar!

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