quinta-feira, 19 de novembro de 2009

OS AZARES DE UM SORTUDO

O senhor Hilário, num golpe de sorte, ganhou um caminhão Scânia num sorteio realizado por um posto de gasolina, foi uma festa só. Ele que era motorista de táxi, agora tinha a chance de se tornar motorista de uma carreta, sonho que acalentava desde de criança, além de tudo, poderia melhorar de vida, pensou:
- Farei viagens e mais viagens, farei carretos por esse Brasil afora, vou sair dessa vidinha, conhecer lugares maravilhosos! Que sorte a minha!
Depois de regularizar a documentação da carreta, iniciou sua tão sonhada vida de caminhoneiro, estava muito orgulhoso.
Na sua segunda viagem, quando atravessava a linha de trem que cruza a rodovia, por descuido, não viu o sinal de alerta, e o som do rádio não o deixou ouvir o apito do trem, o choque foi fatal, a carreta ficou retorcida. Hilário, com várias escoriações, acompanhou o reboque que levou a carreta ao amigo Valdemar, seu mecânico de confiança. Qual não foi a surpresa quando o mecânico disse:
- Não vai ser possível consertar sua carreta, posso fazer dela um caminhão menor.
Hilário ficou indignado, esbravejou, resmungou, mas não teve opção, aceitou a proposta.
Uma semana depois o seu caminhão já estava pronto, imediatamente ele começou refazer seus planos:
- Bem, continuarei a fazer fretes, agora vou levar cargas menores, e tudo bem.
E assim ele seguiu o traçado, tudo estava indo muito bem até que num dia chuvoso, seu caminhão derrapou e foi parar na outra pista e capotou duas vezes, parou com as rodas para cima. Hilário teve muita sorte, saiu com apenas alguns arranhões, mas seu caminhão ficou num estado lastimável. Novamente foi rebocado ao mecânico que, depois de analisá-lo, chegou à conclusão:
- Não é possível reformar o caminhão, posso fazer um caminhão três quartos.
Hilário novamente entrou em desespero, esbravejou, socou o ar, andou de lá para cá, não adiantou, acabou aceitando.
Quinze dias depois o caminhão três quartos já estava pronto e Hilário voltou a fazer planos:
- Bem, agora vou fazer pequenos carretos, viajarei menos, ficarei mais com minha família e tudo bem.
Tudo começou a correr como o planejado, Hilário estava, na medida do possível, contente, mas a fatalidade voltou a freqüentar a cabina de seu caminhão. Numa curva da estrada, um caminhão vinha fazendo uma ultrapassagem irregular e chocou de frente. Novamente a sorte estava do lado do Hilário, ele saiu com algumas fraturas, mas seu caminhão...
- É com tristeza que eu lhe informo: não será mais possível fazer um caminhão três quartos. – Diz o mecânico. - Posso fazer uma caminhonete
- O quê? Você está me gozando, diga que está!
- O pior é que não estou!
O sangue ferveu e Hilário já ia fazer um escândalo, sentou, respirou fundo e preferiu calar-se.
Doze dias depois da entrada na oficina a caminhonete estava pronta, Hilário voltou a fazer planos:
- Bem, agora estarei definitivamente, mais próximo da minha família, farei apenas carretos nos limites do município e tudo bem.
Tudo corria dentro do planejado, Hilário levava uma vida tranqüila, mas o destino pregou mais uma das suas, numa tarde, depois de sair de um bar e de ter tomado alguns goles a mais, um poste veio violentamente ao seu encontro, novamente sua vida estava salva, mas sua caminhonete não tivera a mesma sorte. Na oficina mecânica:
- Seu Hilário, não vai mais ser possível refazer sua caminhonete.
- Como não!?
- É o que eu disse, posso fazer apenas um fusquinha. – Essa foi a gota d’água.
- Agora você exagerou! Eu tinha uma carreta e vou terminar num fusquinha! É demais .
Hilário falou, reclamou, esbravejou... resultado, dez dias depois o fusquinha estava pronto. Quando foi retirar seu carro Hilário estava um tanto desanimado, mas tinha que continuar a vida e logo iniciou novos planos:
- Bem, agora terei uma vida mais tranqüila, voltarei a trabalhar como taxista e, aos finais de semana, irei passear com a família e tudo bem.
Foi o que aconteceu, tudo estava indo muito bem, mas num certo final de semana saiu com a família, foi pescar num rio próximo à cidade; quando voltava do passeio, o carro deslizou no cascalho da estrada e rolou barranco abaixo indo parar dentro do rio. Novamente Hilário sai com poucos arranhões, mas dessa vez o destino foi mais duro, a mulher e o filho não tiveram a mesma sorte, morreram. O fusquinha também foi outra vítima fatal.
Lá estava novamente, Hilário, o fusca arrebentado e o mecânico:
- É seu Hilário, o estrago foi grande, só vou poder fazer uma motocicleta.
O pobre Hilário estava tão desconsolado que não teve força nem de brigar, só balançou a cabeça concordando.
Oito dias depois a moto estava pronta, Hilário traça novos planos:
- Bem, já que o destino quis assim, agora serei um rebelde, a cidade acaba de ganhar mais um motoqueiro, não tenho outras preocupações, minha vida será uma eterna aventura e tudo bem.
Quase foi, não fosse um sinal fechado que Hilário teimou em cruzar, um ônibus não conseguiu frear a tempo, resultado, ele internado com várias fraturas e a moto levada ao mecânico por uma caminhonete.
Quando Hilário saiu do hospital, foi direto à oficina mecânica e lá recebeu a notícia:
- Já vou alertando, moto não dá mais para fazer, posso fazer uma bicicleta.
- Bicicleta? Bicicleta!... Você está brincando comigo, diga que está!
- Não estou, digo novamente, só posso fazer uma bicicleta.
Agora Hilário estava realmente bravo, chamou o mecânico de incompetente e saiu resmungando. Como podia uma carreta acabar em uma bicicleta. Dois dias depois voltou e já foi perguntando:
- Bicicleta!?
- Bicicleta.
- Tá bom, então faz.
Quatro dias depois a bicicleta estava pronta, Hilário fez novos planos:
- Bem, já não tenho mais nada mesmo, pelo menos vou economizar gasolina e fazer exercício, e tudo bem.
Num belo dia de sol, quando estava saindo de casa, com o pensamento distante, não percebeu uma carreta que se aproximava velozmente, pimba! Hilário foi jogado longe, a roda da carreta passou sobre a bicicleta. Hilário sofreu pequenas escoriações, já a bicicleta perda total.
- Olha seu Hilário, já vou adiantando, só posso fazer uma espingarda com sua bicicleta.
Hilário desatou a rir e não parava mais, o mecânico já estava até preocupado, o homem enlouquecera de vez:
- O senhor não está se sentindo bem!?
- Estou rindo de raiva, isso é raiva. – E continuou rindo.
Três dias depois já estava saindo com sua espingarda e começou a renovar todos os seus planos e, diga-se de passagem, muito a contra gosto:
- Bem, agora vou para o meio do mato e vou viver caçando, não quero mais nem ver cidade grande, vou viver de caças e tudo bem.
E assim ele fez, foi viver no meio do mato, mas a espingarda não estava encaixando direito, quando foi dar o primeiro tiro - a fatalidade - a espingarda estava inteira, mas o cartucho ao invés de sair para frente voltou e acertou a testa do pobre Hilário.
Moral da história: “Não faça do seu veículo uma arma, a vitima pode ser você”.

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