sábado, 20 de novembro de 2010

O IMPÉRIO DO AMOR - AS MULHERES DO IMPERADOR

“Quando impera a dor,
Sublime do amor,
Busca-se a morte,
Consola a dor”.


O imperador Odháffas Hetnagorra sempre teve tudo a seu dispor, nunca precisou de esforços para conseguir o que quis, filho único do casal real que demorou para concebê-lo, quando ele nasceu a rainha já beirava os quarenta anos e o rei estava com quarenta e nove anos. Aos nove anos seus pais morreram em uma emboscada. A partir desse acontecimento o imperador passou a receber todos os cuidados possíveis, afinal de contas, ele já havia sofrido muito e, com isso, não teve ninguém que tivesse coragem de dizer o que ele deveria ou não fazer, quem ousava recriminá-lo acabava no calabouço ou enforcado sob alegação de conspiração contra o império.
Na comemoração dos vinte e cinco anos do imperador, um grupo de belas jovens apresentava danças típicas no salão real, e, normalmente, quando os grupos se apresentam, as mais belas já haviam estado na presença do imperador ou até já tiveram algum relacionamento com o imperador, pois ele era muito mulherengo, mas nesse grupo ocorreu algo inusitado, apresentou-se uma jovem de mais ou menos vinte e um anos que o imperador nunca havia visto e ele ficou encantado por ela, uma jovem linda e numa idade em que o imperador já deveria estar sabendo dela:
- Por que está jovem nunca foi trazida a mim? Por que ninguém nunca me falou dela?
- Sabe que é meu senhor, o informante real devem ter esquecido!
- Esquecido, esquecido, como alguém poderia se esquecer de comunicar sobre uma jovem tão bela e graciosa?
Ao final do espetáculo o imperador pede que não deixem que a moça se vá sem falar com ele e assim foi feito. A principio, Addnyl, a bela jovem não queria aceitar, relutou muito, mas devido a ameaças decidiu falar com o imperador.
Uma vez nos aposentos do imperador resolveu tirar satisfações:
- Quem você pensa que é para obrigar ou impedir as pessoas de ir ou vir, eu já não tenho mais nada para fazer aqui, preciso ir embora.
O imperador deu uma gargalhada debochada e alfinetou:
- Um que meda! A jovem está revoltosa! Se você não sabe sou o imperador e eu mando aqui. Mando em mim, mando no palácio, mando nos criados, mando nos súditos, mando nos seus pais, enfim, mando em você e até nos teus cachorros.
- Uia! Você me impressionou! Manda em mim! – Fez uma pausa e com ironia - Tem certeza? Como ninguém me avisou?
- Gostei, encontrei uma garota que, além de bonita, é espirituosa, isso é raro, isso é bom, vai ser mais emocionante, vai ser caliente.
- Você é ridículo, fala ridículo, se veste de uma forma ridícula, acha que está arrasando. Vê se enxerga imperador da Umbigolândia (só vê seu umbigo)!
- Vixii! Agora você pegou pesado, magoei! – Fala ironizando.
- Você se acha o máximo, se acha o rei o da graça! Na realidade não passa de um ditadorzinho desqualificado.
- Você tá com um repertório afiado, dá impressão que treinou em casa? - Fala debochando da jovem.
- Para ter um diálogo um pouco mais inteligente com você não se precisa treinar em casa, você é tão medíocre que até uma criança tem um cérebro mais privilegiado que o teu.
- Tá bom garota já deu o seu showzinho particular, já me enchi, por menos que isso eu já teria mandado decapitar, mas vamos aos entretantos, quero você hoje à noite nos meus aposentos. - Falando às criadas do palácio. – Ouviram? Quero esta garota impecável hoje à noite.
- Rá, rá! Só porque você quer! Se quiser ficar com alguém aqui leve os guardas para dormir contigo. Euzinha aqui? Com você? Nem pensar.
- Agora chega, me enchi da brincadeira! – Ordenando aos guardas. – Leve-na à masmorra, vamos dar-lhe uma lição. Vamos amansar a fera! Dois guardas sorriram, imaginaram que teriam diversão naquela noite.
Enquanto os guardas levavam a jovem que ia arrastada, o imperador pensou um pouquinho e chamou o capitão da guarda.
- Não quero que ninguém encoste num único fio de cabelo dessa moça, se eu ao menos imaginar que alguém ousou lançar um olhar malicioso para ela, você será o primeiro a perder a cabeça. - Como o capitão da guarda sabia que não seria saudável desobedecer ao imperador não faria nem em pensamento, mas saiu pensativo, o imperador nunca perdoou petulância, porque mudara de postura.
- Que droga! Eu deveria mandar matá-la, vou ficar desmoralizado se continuar permitindo desaforos! Porque tive vontade de poupá-la depois de tudo que ela me falou? Bobagem! Ela é muito bonita e não vale a pena desperdiçar um material daquele.
Naquela noite, para saciar e acalmar seus ânimos, ele convocou um grupo de belas jovens, conseguiu aplacar seus desejos, ao término da festa decidiu que não valia a pena ficar mantendo viva uma jovem que o desafiara, ela poderia ser um péssimo exemplo. Apesar de ter ido dormir de madrugada o imperador não conseguiu dormir até mais tarde, pediu para um dos guardas trazer a jovem à sua presença:
- Ora, estou vendo que apesar de dormir sem os cremes e num lugar não muito confortável continuas bela! Parece-me que a masmorra lhe foi leve!
- Com certeza fui mais feliz do que as pobres infelizes que costumam passar a noite na marra com você, apesar de dormirem nos mais belos e confortáveis aposentos do reino.
- Ao que parece a masmorra não foi suficiente, continua venenosa, mas vou lhe dar a última chance, eu a quero hoje à tarde, banhada, vestida nos meus aposentos.
- Vai perder o seu tempo, não quero nada com você, me deixe ir embora que vai ser melhor para todos nós assim você não perde seu tempo e não se irrita mais, quanto a mim, volto aos que eu amo e não falo nada para ninguém.
- Muita gente já presenciou seu desrespeito, não dá para deixar sem uma lição. – Em seguida deu ordem às criadas. – Levem essa petulante, preparem-na, e, traga para mim hoje à tarde. – Em seguida virou as costas e saiu.
Como o ordenado, á tarde Addnyl foi levada à força aos aposentos do imperador:
- Oh! Percebo que valeu a pena esperar, você está muito bonita!
- Pena que isso tudo não seja para você.
- Que gracinha, continua espirituosa, vem cá, facilite as coisas e deite-se ao meu lado.
- Rá, vai esperando o protótipo de ditador!
- Você já me encheu, agora você vem por bem ou por mal.
- Experimente encostar em mim para ver o que vai te acontecer, bibelô real.
- Chega, chega, você vai ver quem manda aqui, você vai deitar na marra, sua, sua.. – quando o imperador tentou agarrá-la recebeu uma joelhada entre as pernas, o imperador, acusou o golpe baixo e caiu na cama. Tentou chamar os guardas, mas a voz não saiu.
- Você está acostumado a ter todas as mulheres que quer, mesmo que elas não lhe queiram, e que depois de uma noite com você elas se sintam sujas, saiam daqui te odiando e odiando o mundo, você acaba com os sonhos de inúmeras jovens só para satisfazer seus sádicos prazeres, muitas se prostituem, outras até se suicidam, você é repugnante.
- Não quero ouvir mais nada. – O imperador abre a porta do quarto e chama o chefe da sua segurança. - Enforquem-na! Construa uma forca nova e bonita, quero que este enforcamento sirva de lição. – Pergunta o imperador a bela jovem: - Não vai dizer nada?
- Sabe que a forca torna-se até simpática diante da possibilidade de escapar de você!
- Tire essa suicida doida daqui. – Desequilibrado, coisa que raramente acontecia, o imperador Odháffas pede que os guardas realizem o enforcamento em três dias.
- Mas imperador, três dias é muito pouco para construir uma bonita forca e comunicar o povo do evento!
- Virem-se, a quero enforcada ao entardece do terceiro dia, caso contrário mando construir uma bem feia para enforcar todos vocês. – Assustados os guardas saíram levando a jovem?
- Que droga, assim vou acabar desmoralizado, essa jovem está destruindo minha reputação de imperador, ditador, mal e frio.
Durante dois dias o imperador conservou a esperança que a bela jovem Addnyl mudasse de idéia, só não entendia porque, apesar de toda ofensa ela não lhe saia da mente.
No terceiro dia bem cedo o imperador foi à masmorra onde estava a bela. Os guardas ficaram admirados, pois o imperador nunca ia naquele local, algo de ruim estava por acontecer.
- Bom dia minha bela candidata ao enforcamento! – Ironiza. - Não se preocupe mandei fazer uma forca que vai lhe cair bem, digo, você vai cair bem nela. Até a corda estará combinando?
- Fico muito feliz com isso, afinal de contas o imperador, poderoso e viril está assumindo o seu lado mais sensível e delicado, quem sabe o seu próximo passo será o de consultor de moda do império!
- Cala boca sua devassa! Não vim aqui para ser zombado, vim para dar-lhe uma chance, caso queira escapar da forca implore para que eu, na minha eterna bondade e benevolência te aceite por uma noite!
A bela Addnyl dá um sorriso irônico ao imperador, em seguida chama o capitão da guarda:
- Afinal de contas, a que horas vai ser esse enforcamento? Vocês não me disseram que eu seria torturada antes pela presença do imperador!
- Ra,ra,ra, estou morrendo de rir, você é hilária? – Ironiza o imperador – Isso me deixa feliz, pois não carregarei a culpa de ter enforcado alguém contra a sua vontade!
- Uma forca é até um consolo, uma recompensada para escapar da sua presença.
O imperador achou ter visto um dos guardas sorrindo:
- Esse imbecil tá achando graça, coloque o numa cela, um semana sem comer e nem beber.
- Ui! Que medo! Como ele é terrível! – Mais uma vez Addnyl satiriza o imperador
- Isso aproveite, ironiza, no final serei eu quem, de camarote, assistirei sua ironia e arrogância serem enforcadas juntas com você. – Falou, virou as costas e foi embora.
Após a saída do imperador a forte Addnyl esmoreceu, deixou-se cair e ali ficou chorando muito.
O enforcamento estava marcado para o final da tarde, justamente no por do sol, afinal de contas uma mulher tão bela merecia um belo cenário, segundo declarara o imperador.
Os criados do imperador perceberam que alguma coisa não estava bem, ele que sempre estava cercado de puxa sacos e belas jovens, agora queria ficar só, estava mais irritado do que de costume.
Vieram lhe avisar que o almoço estava servido, o imperador ordenou que não queria ninguém almoçando com ele.
- Mas imperador, longe de mim querer contrariá-lo, mas hoje é o dia do almoço com os ministros. – Diz o capitão da guarda.
- Dispense-os, seu incompetente.
O chefe da guarda sabia que não era bom para sua saúde discutir com o imperador, por isso decidiu obedecê-lo imediatamente. Durante o almoço os serviçais notaram que o imperador não tocara em nada, estava com um semblante preocupado, de repente levantou-se, furiosamente começou a jogar todos os pratos e travessas no chão, estava descontrolado. Os serviçais estavam assustado nunca haviam visto o imperador tão descontrolado.
Uma vez em seus aposentos o imperador jogou-se sobre a cama e começou a se indagar:
- O que é isso? Porque essa dor que sinto no peito, dor que espalha por todo o corpo e parece ter início no mais profundo do meu ser?


“Soberano entre tantos,
Por força tão obscura
Curvo-me em prantos
Diante de tão frágil figura”


Preocupado com sua situação chamou o médico real, depois de um diagnóstico superficial, até porque os aparatos da medicina na época eram rústicos, deu o diagnóstico: uma virose, um problema cardíaco ou foi enfeitiçado – até supôs uma paixão, mas preferiu não arriscar em dizer ao imperador, pois ele se dizia vacinado contra esse mal. Com isso o imperador ficou em observação médica.
Chegou o entardecer, o povo estava reunido na praça central, o imperador se encontrava posicionado no balcão principal do palácio, de repente a bela Addnyl foi trazida, estava vestida de branco realçando ainda mais sua beleza, levaram-na ao lastro da forca, um representante da lei leu seu crime: - Desacato e ofensa ao imperador. – Em seguida uma corda foi colocada em seu pescoço, o povo estava dividido, amigos, familiares da bela Addnyl choravam e imploravam clemência, somente seu noivo estava ausente por estar numa missão real, uma vez que era soldado real. Muitos dos espectadores concordavam que a autoridade do imperador deveria ser mantida sob pena de desestabilizar o império.
O carrasco esticou a corda e Addnyl ficou na ponta dos pés, o carrasco vagarosamente se dirigiu para abrir o alçapão onde a jovem cairá e se restabelecerá a autoridade imperial.

CONTINUAÇÃO
No balcão o imperador era consumido em ódio e dúvida, ódio por ter sido desobedecido e ofendido, somente tinha dúvidas se suas dores se aplacariam com a morte da jovem. A cabeça girava o que fazer – o carrasco segurou firme o cabo da alavanca que abre o alçapão – no desespero o imperador pede para parar o enforcamento, o capitão da sua guarda pessoal alertou-o de que ninguém o ouviria e mesmo que alguém fosse correndo não chegaria a tempo:
- Atirem no carrasco, atirem no carrasco.
Quando o carrasco foi puxar a alavanca uma flecha atingiu-lhe as costas, na dor ele se virou e recebeu uma outra flecha no peito.
Sob ordem do imperador que se retirou do balcão, alguns soldados tiraram a jovem da forca.
- Onde estão me levando?
- Pergunte ao imperador, pois logo mais você estará em sua presença.
- De novo, porque não me deixaram morrer seria menos ... – Addnyl não termina a frase e desmaia e é carregada por um soldado.
Depois de ter sido preparada pelas serviçais do castelo a bela Addnyl foi novamente levada aos aposentos do imperador:
- Percebeu que sua vida está em minhas mãos, se não tivesse intercedido há essa hora estaria dependurada numa corda.
- Você espera que eu te agradeça? Foi você mesmo que me colocou lá e, teria sido muito mais agradável do que estar na sua presença?
- Que porcaria! Você só me ofende, em nenhum momento tentou se acertar ou ser carinhosa comigo.
- Olha quem fala! Até agora você só foi grosseiro comigo e ainda quer que eu te agradeça por estar me querendo na marra? Saiba que eu te odeio e não vai conseguir nada de mim.
- Por que me odeia tanto? Quantas mulheres dariam tudo para estar nesse palácio e me servir, você está tendo esta oportunidade, teimosa e imbecilmente, está jogando tudo fora!
- Se tantas mulheres gostariam de estar no meu lugar, porque não as traz para cá e me deixa ir embora? Existem mulheres mais bonitas e até aquelas brigariam para estar contigo, mas eu não quero e nunca vou querer.
- Mas porque essa rejeição tamanha?
- Sabe imperador, para seu governo sou noiva e amo outro homem, e só me entregaria de corpo e alma para o meu amado.
- Amor, amor, esse é o lado frágil dos tolos, os sábios não amam, não se deixam aprisionar, aproveitam os prazeres que a vida lhe oferecem, não sofrem dessa doença dos fracos e mesquinhos.
- Pois então imperador, por que se humilhar para uma mulher doente de amor, isso pode ser contagioso e você pode se tornar um tolo também, fique longe e divida sua sapiência com todas que lhe querem, assim não correrá riscos de sofrer por amor. Quando só buscas pessoas que estejam a sua disposição não terá de abdicar de nada e não se sujeitará as essas fraquezas dos tolos humanos.
- Você está zombando de mim, saiba que não estou me humilhando a você, só quero o que me é de direito, eu sou o imperador e meu desejo é uma ordem, e minha ordem é que você se entregues para mim de corpo e alma. – Dizendo isso o imperador avançou em direção a Addnyl, ela continuou imóvel, o imperador passou a rasgar lhe a roupa e a jovem continuou a sua mercê, mesmo enquanto tentava beijá-la, ela continua imóvel, não esboçava reação nenhuma e o imperador lhe ordenou:
- Vamos, corresponda às minhas carícias.
Addnyl não respondeu nada continuou como se tivesse em sono profundo, isso irritou o imperador que já estava descontrolado:
- Bruxa, bruxa, você está me envenenando, estou adoecendo pelo seu feitiço! - Nesse instante o imperador atirou Addnyl sobre a cama e vagarosamente caminhou em sua direção.
Nesse instante Addnyl respondeu:
- Na marra imperador, você poderá ter o meu corpo, mas não o meu calor, poderá dar-me carinho, mas não o receberá, terá sim o meu ódio eterno, esperarei o tempo de acabar de me beijar e cuspirei seu gosto, caso tape minha boca vomitarei mentalmente, pode obrigar e exigir o meu corpo, mas nunca os meus sentimentos e o meu querer. Agora sentada na cama Addnyl fala ajeitando um dos lados da blusa que deixava à mostra um dos seus lindos seios.
- Você é maligna, você é venenosa, você é bruxa, você é encarnação do mal.
- Eu sou a liberdade e o amor verdadeiro, tudo o que um tirano não quer nos súditos. Ao meu amado me entregarei inteira, não só meu corpo, mas meu calor, minha alegria, meu ser, minha alma, meu querer.
O imperador afastou-se e se se deixou cair numa cadeira, estrategicamente colocada no quarto, colocou uma das mãos na fronte e encostou o cotovelo no joelho, agora em tom mais ameno, perguntou:
- Sou tão monstruoso e asqueroso que não mereça o amor de uma mulher?
- Se é o que quer ouvir, você é um homem bonito, mas só isso não é o suficiente, a monstruosidade está nas tuas atitudes.
- Então se eu for carinhoso você me aceita?
- Não são só os teus carinhos que poderão fazer alguém querer você, tem que haver sintonia, tem que haver a química do amor?
- Como se produz essa química? Pode reunir os maiores alquimistas do reino e eles o produzirão.
- São vários fatores que produzem essa química, mas ela é natural, não podemos inventá-la.
- Por que não podemos ter essa química?
- Por que já amo outro homem?
Nesse instante o imperador se colocou de pé:
- Ele é imperador de outro reino, é algum nobre desconhecido do nosso reino.
- Não, imperador, ele é um jovem simples, do povo, inclusive um soldado do teu exército.
O imperador se colocou próximo à jovem, ele estava irado:
- Como! Ser trocado por um pobretão! Como se pode amar um miserável, quando se pode ter tudo? Eu lhe dou uma boa quantidade em ouro!
- Guarde seu ouro para gastar com as interesseiras, imperador, o verdadeiro amor não se compra, ele é gratuito.
- Amor, amor, sempre ele, que ódio! Você é piegas demais, e ainda diz que eu sou ditador, esse tal amor é muito mais ditador, ele tem normas, aprisiona, subjuga, é exclusivista e tortura as pessoas, chegando a condená-las à morte... – Não chegou a concluir, quando Addynil indagou.
- Está querendo dizer que sabe o que é amor, que já sentiu ou está sentindo o amor?
Pego de surpresa o imperador tenta desconversar:
- Você não fala em outra coisa, já estou ficando especialista em matéria de amor. – O imperador terminar de falar e faz-se um silêncio profundo no local. Minutos depois o imperador quebra o silêncio. – Faço uma proposta, dou um pedaço de terra a sua família e ouro para que não tenha problemas financeiros por toda vida, aceita minha proposta?
- Imperador, a coisa mais preciosa que poderá me oferecer é minha liberdade, esquecerei tudo e seguiremos nossas vidas.
Irritado o imperador abre a porta de seus aposentos e chama três soldados que estão próximos à porta:
- Levem essa bruxa coloque na masmorra e, caso em cinco dias ela não decida por pedir perdão pela desobediência, queimem-na numa fogueira em praça central.
Um dos soldados chegou a comentar com outro: - Tenho impressão que na última hora um dos nossos vai se dar mal, lembra o que aconteceu com o carrasco?
Novamente Addnyl foi trancafiada numa cela úmida e fria, ficando sem nada para comer ou beber.
Enquanto isso em seus aposentos o imperador era consumido por tremores, também não sentia fome:
- Parece que engoli um enxame de abelha, todo meu corpo sofre como estivesse sendo picado por dentro, o feitiço dessa bruxa é muito poderoso. Tenho que reagir, não posso continuar assim, ainda sou o imperador e todo o reino espera que eu exerça minhas funções isso alimenta as fantasias desses pobres mortais de estar protegido por um imperador supremo, é o fascínio pelos que detêm o poder. – Nesse instante o imperador chamou o capitão da sua guarda pessoal e pediu que as mais belas mulheres fossem colocadas à sua disposição naquela noite e assim foi feito, algo surpreendente aconteceu, por mais que tenha tentando o imperador não conseguiu se interessar por nenhuma, a noite foi uma tragédia para a virilidade do imperador. Novamente chamou o capitão e pediu que desse um sumiço naquelas jovens, elas não poderiam falar com ninguém.
Amor, oh! Imenso amor!
Donde tu vens
Trazendo tamanha dor?
Mostre-me tua outra face, se tens,
E serei seu escravo, meu senhor.
O dia amanheceu e o imperador não havia conseguido dormir, suas dores não cessavam e seus pensamentos só tinham lugar para a bela Addnyl, suas palavras ecoavam e sua imagem o fazia delirar. Sentindo suas forças esvaírem, com o corpo parecendo estar em chagas, ele manda chamar Aohzzar, sua mais antiga criada, inclusive ela o pegara nos braços quando nasceu e esteve presente em vários momentos da vida do imperador, só não foi mais presente, pois o pai do imperador achava que ela poderia influenciar negativamente o imperador tornando-o muito sensível e frágil para a função.
- Aohzzar, Aohzzar, o que está acontecendo comigo, estou morrendo de uma doença lançada por uma bruxa, todo meu corpo dói, não sinto fome, não consegui dormir, meu corpo arde em chama, meu coração parece querer explodir, para piorar, não consigo parar de pensar na bruxa que me lançou o feitiço! O que eu tenho Aohzzar? Ajude-me!
- Meu imperador, pelo que venho acompanhando à distância você realmente foi enfeitiçado e, para piorar é um dos feitiços mais difíceis de ser curado.
- Qual o antídoto? Como eu posso quebrar esse encanto?
- Digo a Vossa Majestade que esse encanto só se quebrar com o desencanto ou então deixar a dor se transformar em bálsamo com a dosagem diária do veneno, devendo ser bebido direto na fonte.
- Aohzzar, você só está me confundindo, como vou me curar tomando mais veneno?
- O que eu quero dizer, meu imperador, com todo respeito a Vossa Majestade, a doença que sentes é dor de amor.
- Amor! Não me venha com essa história, eu nunca amei, desse mau eu não morro.
Nesse instante alguém bate à porta, Aohzzar é autorizada a abrir a porta, era o capitão da guarda:
- Majestade, estão presentes no saguão do castelo o pai e o noivo da bela Addyl acompanhados de outros camponeses, eles pedem clemência, querem que a liberte, imploram a vossa bondade!
- Bondade,bondade! Onde que eles acham que estão numa igreja pedido ao bispo? Jogue a todos nos calabouços.
- Mas... – O capitão tentou questionar.- Cumpra-se, não discuta ordens.
- Vai, Aohzzar, não quero mais seus serviços, você é uma incompetente.
Todos se foram e o imperador ficou só e pensativo:
- Parece que não me conhecem, logo eu o imperador, subordinado a um sentimento próprio dos fracos, eu que tenho todas as mulheres que quiser! Só me faltava essa, apaixonar por uma camponesa! Ela nem é a mais bela mulher que eu já vi! Já estive com condessas, princesas, rainhas e centenas de mulheres da mais alta nobreza, vou me apaixonar por uma plebéia, mal vestida, pele encardida, e que fala errado! O amor pode ser cego, mas eu uso o tato. – Ficou um tempo só remoendo suas dores e completou. – Diante disso porque não paro de pensar nela?
Amor, decantado amor,
Se és tão profundo na alegria
Quanto tens sido na dor,
Todos os prazeres do mundo trocaria
Por apenas um dia de amor.
Passa-se mais uma noite e o imperador não consegue dormir, está fraco e debilitado, sua criadagem e seus soldados nunca viram o explosivo e tirano imperador tão abalado. Depois de analisar o que vem sentindo e o que lhe disse Aohzzar, o imperador decide dar uma última chance a bela Addnyl, então decide ir ao seu encontro:
- Quando os carcereiros o viram perceberam que o imperador já não era o mesmo, estava mais amenos, menos mandão. Quando o imperador viu Addnyl percebeu pela sua fisionomia que havia sofrido muito, notou que estava sentindo muita pena dela, isso nunca havia acontecido:
- Addnyl, quero falar com você.
- Imperador, você aqui novamente, já não basta o que estou sofrendo, ainda sou obrigado a vê-lo e ouvi-lo?
- Addnyl, por favor! Chega de ofensas! – Imperador estava mais suave. – Vim fazer-lhe uma proposta, eu a liberto e você fica no castelo e eu lhe dou um tempo para você aprender a gostar de mim.
- Imperador, eu amo outro homem, tenho convicção disso, não posso querer ou não querer me apaixonar por você, amor a gente não inventa ele nasce e cresce no coração.
- Que droga, outro homem, que homem pode ser mais importante que o imperador?
- Imperador, já lhe falei que o amor não vê poder ou riqueza, o amor verdadeiro é maior que tudo isso é um sentimento supremo.
- Supremo sou eu, sou o bem e o mal, sou a verdade e a mentira, quem não me obedece está fadado ao nada. Sou o deus desse povo e decido pela vida e pela morte de cada um - O imperador respira fundo. - Não vou ficar discutido com você, estou pedindo, aceita minha proposta, entenda que eu nunca pedi nada a ninguém, apenas dê-me essa chance?
- Faço outra proposta, imperador, você me liberta eu volto para os meus, caso eu sinto falta de ti, eu volto a lhe procurar, aceita?
- Está me achando com cara de idiota, está querendo fazer o imperador de imbecil! Depois que você se for eu nunca mais a verei, é a minha proposta ou a fogueira?
- Diante dessas possibilidades prefiro a fogueira.
- Assim será. Inclusive seu pai e seu noivo já estão na masmorra e você acaba de determinar a morte deles também. – O imperador se dirige a um carcereiro e ordena, quero essa bruxa na fogueira hoje à tarde.
- Por favor! Não faça nada com eles, não merecem serem punidos! -Addnyl grita, mas o Imperador segue sua caminhada.
- Seu monstro, seu monstro! - Os gritos parecem ferir a alma do imperador, mas ele segue.
Já em seus aposentos o imperador sente forças esvaindo, sua consciência o condena, sabe que foi radical como sempre, deveria ter negociado mais, começa a se questionar:
- Será que eu deveria ter aceitado sua proposta? Ao menos ela continuaria viva!
Cansado, debilitado o imperador adormece, e assim fica durante várias horas, acorda de sobressaltado, está queimando em febre, seu corpo parece repleto de chagas, acorda delirando, chamando o nome de Addnyl, o capitão da guarda abre a porta de seus aposentos e encontra o imperador caído e ardendo em febre, desesperado o capitão chama Aohzzar que vem o mais rápido possível:
- Meu imperador, o que está acontecendo?
- Eu a amo, eu amo Addnyl, não a deixe morrer, salvem, salvem, mesmo que ela não queira ficar comigo, eu a deixo livre para decidir só não quero perder qualquer esperança, salvem-na.
- Do que ele está falando? – O capitão não está entendendo.
- Vá rápido, é uma ordem, não permitam que a jovem Addnyl seja queimada na fogueira, vá homem, não perca tempo, você não entende que a vida do imperador que está em jogo!
O capitão foi o mais rápido possível, mas chegando ao calabouço o carcereiro comunicou que ela havia sido levada para a praça central. Desesperado o capitão corre para a praça, já estava anoitecendo e de longe ele viu a fogueira acesa e suas labaredas iluminavam toda a praça.
Enquanto se dirigia aos aposentos do imperador o capitão era a própria expressão da derrota, tinha medo de comunicar a tragédia, mas se mentisse não teria como sustenta-la por muito tempo e poderia pagar caro por isso, foi então que decidiu falar. Quando adentrou ao aposento viu Aohzzar cuidando carinhosamente do imperador:
- Capitão, por favor! Não me deixe esperando, faça entrar a bela Addnyl.
- Majestade, eu... – a voz estava embargada – infelizmente, não consegui chegar a tempo.
- Como? Seu incompetente, você deixou-a morrer? Você é culpado pela morte da minha doce Addnyl, você é o culpado. Vou mandá-lo para a forca. Guardas prendam esse incompetente. – O imperador precisava achar um culpado, assim, imediatamente o capitão foi levado preso.
Novamente nos aposentos estavam apenas o imperador e Aohzzar:
- Como isso pode acontecer, Aohzzar? Não sou mais um jovenzinho, como ainda fui cair nas armadilhas do amor! – O imperador estava transtornado, chorava como uma criança.
- O amor não é armadilha, majestade, só não podemos aprisioná-lo, nem tentar subjugá-lo, ele é o mais belo dos sentimentos, só os grandes amantes sabem do seu valor.
O imperador ardia em febre e delirava, sentia todo o seu corpo dolorido:
- Eu sou o imperador, eu mando e ai de quem não me obedecer, porque meus sentimentos não me obedecem, porque sofro quando não quero sofrer, porque essa dor não me obedece e vai embora. – A cada instante imperador piorava. – Porque essa fogueira dentro de mim, Aohzzar, porque estou sendo queimado vivo. Diga aos inquisitores que parem a execução, eu sou imperador e não quero ser queimado. – Aohzzar continuava ali ao lado do imperador presenciando sua dor e vendo suas forças se esvaindo.
Amor, decantado amor,
Se és tão profundo na alegria
Quanto tens sido na dor
Trocaria todos os prazeres do mundo
Por um dia de amor.
Todos os doutores do império foram chamados, mas depois de dois dias de sofrimento e de ter chamado o nome da bela Addnyl até o último momento o imperador não resistiu e morreu.
Apesar de o povo ter consciência de ter se livrado de um imperador mau e ditador, entristeceram ao saber da circunstância da sua morte.
Como o imperador não tinha herdeiros, vários nomes foram cogitados, mas num levante o povo exigiu que o noivo de Addnyl, que sempre fora um homem destemido, honesto e de um grande coração, fosse escolhido governante daquele reino, como não houve resistência por parte dos soldados, assim foi feito.
Uma das primeiras providências do novo rei foi mandar um escultor fazer uma estátua da bela Addnyl que foi colocado na praça central para que o povo não esquecesse daquele amor fiel e puro. Também a bandeira do reino foi trocada e passou a ser toda vermelha, no centro o brasão e, embaixo a frase Amor, Liberdade e Fraternidade escrita em cor dourada.
O rei foi muito bom para seu povo e aquela história de amor nunca foi esquecidam serviu para as pessoas perceberem que as coisas mais importantes da vida, não precisa ter, necessariamente, um preço, mas cuidados, zelos e carinho.
Conforme um artigo da revista especializada “The Psychologist”, o psicólogo Frank Tallis escreveu que muitas pessoas acabam desestabilizadas ao se apaixonar ou sofrem quando seu amor não é correspondido. Muitas pessoas podem morrer de desilusão amorosa.

3 comentários:

  1. O Conto ficou mesmo muito lindo! Também penso que para ser feliz não é necessário que paguemos por isso. E esse castelo...demais!Quero morar lá... e como estou numa fase meio de "ostra" - quero ficar lá uns tempos sozinha. Tem locação para o Castelo nesse conto? rsos...

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  2. Para o Imperador:
    " Como explicar o amor,
    se haverá sempre
    a condição do Ser que ama
    e a condição do Ser amado?" Do Livro Amorosidades.....

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