sábado, 23 de junho de 2012

COMO CAMÕES PERDEU O OLHO NO CÓRREGO DO CAVALO

A professora de Língua Portuguesa de uma sala de aula do ensino fundamental falava da importância do livro e da leitura na vida dos estudantes; evoluiu o assunto e  passou a  falar sobre os grandes  escritores da língua dos descobridores e colonizadores do Brasil, ou seja, a língua falada em Portugal:
- Dentre  os grandes  escritores  de língua portuguesesa, Camões é um dos maiores, inclusive influenciou as futuras gerações com seus maravilhosos poemas épicos. - Parou repentinamente a explicação e fez a pergunta fatídica - Alguém aqui já ouviu falar em Camões? - Rapidamente uma pequena mão se elevou, a professora já ficou ressabiada, pois constatou que se tratava do aluno Ericky Sonthyaggo, filho do famoso Analista do Córrego do Cavalo:
- Eu ouvi, professora!
- Oh! Que bom! Quem lhe falou sobre Camões?
- Meu pai! Ele disse que o Camões era filho de um amigo do meu avô, pai do meu pai.
A professora elevou as sobrancelhas com jeito de indignação, achou por bem dar corda e ver onde aquilo ia parar: - Se o seu pai conheceu, inclusive, deve ter brincado com Camões, deve ter ficado sabendo como Camões perdeu um olho! – Falou ironicamente para deixar o garoto em maus lençóis.
- Ah, professora! O meu pai sabe sim, ele contou para mim tudo isso! – Falou o filho do Analista do Córrego do Cavalo se achando o dono da verdade.
- Que interessante! Então conta para todos nós, também queremos saber a verdadeira história de Camões, não é turma? - Instigou a professora.
- Ééééé. – Os alunos da turma gritaram em coro um “é”, mais para agradar a professora, pois nem imaginavam quem fora Camões.
- Sabe professora, o meu pai falou que o Camões era filho do portuga, seu Manoel, mais conhecido com Maneco da Maria - a Maria em questão era a mãe do Camões - eles moravam num sítio próximo ao noso, na margem esquerda do Córrego do Cavalo, mais propriamente próximo ao rio Grande. Meu pai contou ainda que entre o sítio do seu Maneco e do japonês Tanaka havia uma reserva de mato e, pelos comentários do povo da região, até onça havia por lá, e, a desconfiança do povo aumentou quando começou desaparecer bezerros e cabritos dos seus rebanhos. Um dia o seu Maneco decidiu que ia entrar na reserva de mato e tentar descobrir se era onça mesmo ou que bicho estava pegando os animais. Assim, numa tarde saiu com seu filho, que naquela época ainda não se chamava Camões... – Nesse momento a professora enterrompeu: - Não se chamava Camões! Então qual era o nome dele?
- Não me lembro direito, mas parece que era Luiz Vaz Luzíadas, mais conhecido como Luizinho. Inclusive meu pai falou que ele e os seus pais fromavam uma família muito unida, quando estavam chegando o povo já falava, lá vem os Luzíadas!.
- Ah! Luizinho, da família dos Luzíadas, que interessante! Isso para mim realmente é novidade! Pode continuar a história. – A professora estava surpresa, pois o criativo mentiroso juntara parte do nome de Camões com o nome do livro que escrevera.
- Então, como eu estava falando, meu pai disse que o senhor Maneco saiu com o seu filho Luizinho, que na época, segundo meu pai, deveria ter uns treze anos, eles foram ver se descobria que bicho estava comendo os animais. Seu Maneco carregava uma espingarda e o Luizinho estava de mãos vazias, por isso andava atrás do pai. Os Luzíadas já tinham caminhado um bom trecho dentro da mata quando escutaram um esturro e, repentinamente, a onça apareceu, era uma das grandes, desesperado e trêmulo seu Maneco tentou atirar, mas a onça já estava correndo na direção deles, assustado ele deixou a arma cair, foi quando a pintada pulou sobre sobre seu Maneco que caiu de costas, Luizinho, de susto, também havia caído e estava perto do pai, no desespero, com medo da onça comer seu pai, ele se levantou rapidamente e pulou sobre ela, com o peso inesperado a onça saiu correndo e o Luizinho continuou no seu lombo e, com uma mão segurava uma de suas orelhas, com a outra mão batia forte na cara dela. Meu pai contava que essa luta durou um longo tempo... 
- Mas como ele perdeu o olho? - Quis saber logo um colega de sala.
- Calma, eu já ia chegar lá! – Luizinho estava no lombo da onça e ela correndo e tentando se livrar dele, mas ele continuava firme agarrado em uma de suas orelhas e batendo na onça com a outra mão, foi quando passaram embaixo de uma moita de espinheiro, e, para infelicidade do Luizinho, um espinho arrancou-lhe o olho direito, mas ele não se abalou, mesmo sem um olho ele continuou sobre a onça e ela tentando derrubá-lo, por fim Luizinho deu conta da onça.
A professora não sabia se ria ou dava uma bronca naquele garoto mentiroso, mas preferiu ver até onde ele ia: - Mas você não nos contou porque o Luizinho recebeu o nome de Camões!
- Ah! Estava me esquecendo! Meu pai disse que Luizinho recebeu o apelido de Camões porque o pai dele, seu Maneco, contava a todos que o Luizinho havia acabado com a onça “com as mãos”, mas do jeito caipira ficava “casmãos”, outros falavam “camãos ou camões”, por fim ficou Camões.
A professora, chocada com a história criativamente mentirosa, pergunta:
- Mas tem uma outra história que o povo conta, não tem?
- É, meu pai falou mesmo que um pessoal criativo inventou outras histórias fantasiosas, que tem batalhas, viagens marítimas, naufrágios, sei lá, mas ele disse que a verdadeira é a que eu acabei de contar!
A sala de aula estava num silêncio só, espervavam o que a professora ia dizer, mas ela, boquiaberta não sabia se mandava aquele mentiroso para a direção ou parabenizava pela criatividade, preferiu mudar de assunto resmungando apenas um: - Han! Tá!